São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Editoras brasileiras compram no escuro

JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

As editoras brasileiras entraram na moda de comprar livros sem ler -e às vezes antes mesmo de o livro ser escrito.
Um caso exemplar é o da editora Rocco, que comprou os direitos de tradução dos três novos livros do britânico Ken Follett, dos quais só o primeiro, "A Place Called Freedom", já foi escrito (veja quadro nesta página com os principais títulos adquiridos em Frankfurt por editoras brasileiras).
O editor Paulo Rocco não divulga quanto pagou de adiantamento pelos três volumes, mas especula-se que não deve ter sido menos de US$ 50 mil.
Para se ter uma idéia comparativa, no mesmo setor de ``best sellers", a Record comprou o novo livro de Frederick Forsyth -que só vai ficar pronto lá para março e ainda não tem nem título- pagando US$ 45 mil de adiantamento.
O caso mais extremo de antecipação, entretanto, é o da Marco Zero, que comprou os direitos do livro de receitas de Jane Fonda que só vai sair nos EUA em 97. O editor Felipe Lindoso não quis revelar o valor da transação.
A febre da antecipação beneficiou pelo menos um autor brasileiro: Chico Buarque.
Os direitos de tradução de seu novo romance -a sair proximamente pela Companhia das Letras- estão sendo comprados ``no escuro" pelas mesmas editoras que publicaram seu livro anterior, ``Estorvo", na Espanha, na França, na Alemanha e na Inglaterra.

Exportação
São poucas, aliás, as editoras brasileiras que estão exportando seus autores. A Companhia das Letras concentrou-se na venda dos livros novos de Patrícia Melo (``Matador") e Jô Soares (``O Xangô de Baker Street"). Segundo o editor Luiz Schwarcz, ambos vão ser traduzidos ``em todos os principais países". O de Jô, até na Grécia.
A editora da Unesp está vendendo para a Itália três títulos na área do ensaio: ``Uma Estranha Língua (Estudos de Latim)", de Alceu Dias Lima; ``Silva: Quadros e Livros", de Romildo Sant'Anna (sobre a obra do pintor ``primitivista" Silva); e ``Democracia e Socialismo: A Experiência Chilena", de Alberto Aggio.
Em geral, os livros de autores brasileiros são colocados nas estantes das editoras e abandonados à própria sorte.
Nesse contexto, a Rocco se surpreendeu com o interesse da editora Faber & Faber pelo livro de José Carlos Avellar sobre ``Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha. O ensaio será publicado na coleção de cinema da editora britânica.

Minorias
Entre os títulos comprados por editoras brasileiras em Frankfurt, o mais curioso é ``Se Você Tivesse Falado, Desdêmona", comprado pela Paz e Terra.
É uma coleção de frases que algumas mulheres famosas deveriam ter dito em certas situações cruciais, segundo a dramaturga alemã Christine Bruckner, autora do livro.
Ainda no departamento das chamadas ``minorias", a Companhia das Letras está trazendo na mala o polêmico ``Virtually Normal", do norte-americano Andrew Sullivan, que pretende ser uma discussão franca sobre o homossexualismo contemporâneo.

Texto Anterior: Itália celebra início da técnica do cinema
Próximo Texto: Estreante é sucesso antes de chegar à livraria
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.