São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995
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Bob Wilson faz viagem no tempo

NELSON DE SÁ
DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O diretor americano Robert Wilson, afinal, foi convidado e pago para vir a Londres.
Escolheu por cenário uma atração turística. No subterrâneo de uma prisão medieval, montou uma viagem no tempo. Uma viagem a meio caminho entre uma instalação e uma peça de teatro -que foi como ``HG" foi recebida.
Começa com uma sala de jantar vitoriana, com um jornal de 1895, ano da edição de ``A Máquina do Tempo", de H.G. Wells. Depois surge no escuro um relógio com as iniciais HG. A partir daí o que se tem é a viagem no tempo -e um britânico jogo de detetive.
Os quartos escuros (cada quarto é um quarto, escreveu Wilson, sem relação entre eles) vão surgindo. Primeiro um gato que se esconde da lanterna nervosa de algum policial, entre os becos mal iluminados de Londres.
Depois um quarto de hospital, com dezenas de camas, baldes de sangue e um registro de 1919, ecoando a guerra. Outro quarto e uma múmia. Outro e outra imagem do Egito, da esfinge. Mais à frente, ruínas romanas, com flechas e sinais de batalha.
Outro quarto, todo coberto de terra e sob um discurso hitlerista, criado pelo ``arquiteto de som" Hans Peter Kuhn, velho parceiro de Wilson. Kuhn criou para cada quarto, agitado por trens de metrô, uma trilha diferente.
Seguindo na viagem, surge uma sala ampla, com uma ironia: a saída de emergência iluminada. Procurando, encontra-se uma pequena abertura no teto, por onde se vêem nuvens e a Terra. A saída é o espaço, a viagem à lua.
Esforçando-se por deixar a imaginação livre, ainda assim Wilson dá sinais, no caminho.
No último quarto, já perto da saída, um coelho aparece ao fundo cercado de plástico por todos os lados. Possivelmente os nossos tempos, de sexo seguro.
O que prometia seriedade e pompa termina com um humor quase infantil.
(NS)

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