São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995 |
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Voto dá mais 7 anos a Saddam Hussein
JOÃO BATISTA NATALI
Segundo resultados parciais da comissão eleitoral, anunciados à 0h20 (18h20 hora de Brasília), relativos a quatro zonas eleitorais de Bagdá, o índice de "sim" em duas delas foi de 99,98% e nas outras, 100%. Nas cidades de Karkuk e Diali o índice de aprovação também foi de 100%. A surpresa esteve no fato de o evento -em que pese o veto a qualquer campanha da oposição- ter ocorrido de forma tão heterodoxa para os padrões ocidentais. Por volta das 11h15, um eleitor aparentando 25 anos, com um filho de três anos ao colo, aproxima-se do repórter da Folha, diante de um movimentado posto de votação no bairro de Al-Basry, periferia de Bagdá. "Não me deixaram votar `não'; nem para isso há liberdade nesse país. Novo episódio de heterodoxia ocorreria na zona eleitoral do bairro de Al-Bayar. Um mesário se preparava para entregar a um eleitor a cédula já preenchida, mas a escondeu rapidamente quando percebeu a aproximação do repórter da Folha, com um crachá que trazia em árabe a palavra imprensa. A maneira original com que o regime autoritário do Iraque conduziu o referendo também transparecia pelo fato de Saddam Hussein ser a personalidade mais presente em todos os locais de votação. As zonas eleitorais de Bagdá acomodavam pequenas fanfarras e grupos que anunciavam aos gritos: "Nosso espírito, nosso sangue, sacrificamos a Saddam Hussein". E na TV sucediam-se cantores da moda com videoclipes patrióticos e iraquianos que afirmavam de forma mecânica: "Saddam é democracia". O jornalista JOÃO BATISTA NATALI está em Bagdá a convite do governo do Iraque. Texto Anterior: Prisão tem mais negros que universidade Próximo Texto: Israel reabre fronteiras e define prazo para eleições na Cisjordânia Índice |
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