São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995 |
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Inglesa conta história das mulheres no pop
BIA ABRAMO
A começar de seu título, "She Bop", citação do hit de Cindy Lauper, aquela que fazia cara de descerebrada e cantava que "garotas só querem diversão". Em generosas 464 páginas, publicadas este ano na Inglaterra, Lucy O'Brien, ex-jornalista do semanário inglês "New Musical Express", autora de biografias de Annie Lennox e Dusty Springfield e colaboradora das revistas britânicas "Vox", "The Face", entre outras, conta a como as mulheres se apropriaram das diversas formas da música pop como expressão de seu tempo e sua condição. Com fôlego de pesquisadora -o texto fica entre o ensaístico e o enciclopédico-, "She Bop" escapa com sensibilidade do feminismo militante, mas faz questão, por outro lado, de afirmar e revelar a presença e as especificidades femininas num mundo considerado quase que sempre masculino, onde no máximo as mulheres participam como backing vocals. A história das mulheres começa exatamente no mesmo lugar que a dos homens -comunidades negras do Sul dos Estados Unidos, começo do século 20. Ali onde nasce o blues, fonte primordial da música popular anglo-saxã contemporânea, é o mesmo lugar de onde as mulheres partem para o assalto. Ao lado de perfis obrigatórios de Bessie Smith e Billie Holiday, Lucy O'Brien revela, por exemplo, a atuação importante de instrumentistas como a pianista Mamie Desdoumes e a guitarrista Memphis Minnie. Na agressividade do punk, na sensualidade do soul, na combatividade da música de protesto, no embate com o mundo machista do rap, as mulheres sempre encontraram algum elemento para a sua afirmação, segundo a autora. Mas o que torna "She Bop" diferente da moda de reescrever a história, qualquer que seja ela, sob o ponto de vista de uma ou outra minoria, é a profusão de informações e o cuidado jornalístico. Para além de uma história das mulheres no pop, Lucy O'Brien escreveu uma história do pop. A autora refaz todo o percurso da música pop dos anos 30 para cá -blues, jazz, pop, soul, rock, rap, world music- com breves análises do período -e de como as mulheres se inseriram ou se opuseram- e pequenas biografias das principais artistas. São 13 capítulos, inclusive um sobre a atuação das mulheres na indústria, como produtoras, técnicas e executivas de gravadoras. Organizado como uma enciclopédia, a autora incluiu, além de um utilíssimo índice remissivo, uma discografia selecionada e uma bibliografia. Livro: She Bop Autora: Lucy O'Brien Lançamento: Penguin Books Preço: 12, 50 libras (R$ 27) Onde encontrar: Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, fone: 011/285-4033) Texto Anterior: 'Kids' joga bomba emocional sobre a platéia Próximo Texto: 'Kids' mostra o amor pelos desajustados Índice |
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