São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 1995
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Empate caiu do céu para o Corinthians

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Há quem veja nesses gols de empate feitos à última hora, como os conquistados pelo Corinthians contra o Ceará, no meio de semana, e contra o Criciúma, no sábado, um sinal dos céus, como a indicar um dos escolhidos.
Sei lá, quem sou para duvidar de tais crenças? Mas, cá entre nós, algo me diz que esse Corinthians não irá além das pernas no Campeonato Brasileiro.
No jogo de sábado, entrou em campo praticamente completo, com Souza, Clóvis estreando e tudo o mais. Resultado: em 90 minutos de bola rolando, não captei nem sequer um vestígio daquele time campeão paulista e da Copa do Brasil.
Chegou mesmo a submeter-se de maneira repulsiva ao domínio do Criciúma, no primeiro tempo, quando levou o gol e poderia ter levado outros tantos.
No segundo, bem que tentou a reação, mas sem brilho nem descortino. Nem uma jogadinha ensaiada, nem um vislumbre de individualidade superior, nada.
O empate, simplesmente, caiu do céu. Não como um sinal, mas como um consolo.
Aliás, quem viu o jogo do Morumbi, garante que, mais ou menos, a mesma coisa ocorreu com o São Paulo, que parece ter virado saco de pancadas, de uma hora para outra.
É bem verdade que os relatos dão conta de uma flagrante superioridade tricolor sobre o Juventude no primeiro tempo. Saiu na frente, permitiu a virada, e se salvou, no finzinho, já sem nenhum merecimento.
Mas o martírio de nenhum deles chega aos pés da cruz que o Flamengo anda carregando: num jogo em que Romário -eureka!- faz dois gols, o veterano arqueiro Paulo César apronta uma daquelas.
Isso já não é nem sinal, muito menos consolo. É pura condenação.

Há uma velha superstição no futebol, segundo a qual a esperada estréia de um craque sempre resulta em desastre. Não se pode dizer que Clóvis seja um craque, tampouco que o resultado do jogo tenha sido um desastre para o Corinthians.
Nem sei mesmo se seria verdadeiro dizer que Clóvis estreou.
Perambulou pelo campo, com a camisa 9 do Corinthians, como uma sombra daquele artilheiro que se revelou no América de Rio Preto para se projetar no Guarani e sucumbir no Vasco.
Isso tudo em muito pouco tempo: três, quatro temporadas, se tanto. Não é novidade, para quem acompanha o futebol. Assim como não será nenhuma surpresa Clóvis dar a volta por cima. O diabo é saber o quanto Clóvis depende do Corinthians para resgatar sua fama de goleador.
A ressurreição de um goleador num time em crise técnica, como a que vive o Corinthians neste momento, não será apenas uma grande surpresa.
Cheira a milagre.

Meu aceno de despedida a Juninho chega tarde, mas cheio de esperanças.
Apesar de tudo parecer conspirar contra o franzino garoto do parque São Lucas no hercúleo futebol inglês, boto fé que Juninho, a exemplo do saudoso Dirceuzinho ou do argentino Ardiles, fará nome por lá também.
Pois Juninho não é apenas talento. É, também, destemor.

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