São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 1995
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'Monkey Kid' mostra Revolução Cultural

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Filme: Monkey Kid - Os Filhos da Revolução
Produção: China
Direção: Xaio-Yen Wang
Elenco: Fu Di, Fang Shu, Yang Guang, Yang Lin
Onde: hoje, às 18h, no Cinesesc

E se a China tivesse seu lado Irã? Não é tão improvável assim. É para lá que aponta "Monkey Kid - Os Filhos da Revolução". Se o Irã passou (passa ainda) pelo regime dos iatolás fundamentalistas, a Revolução Cultural também foi, a sua maneira, uma espécie de fundamentalismo.
O cinema iraniano tem sido, em grande medida, um cinema sobre a infância. Isso é uma preferência de seu principal cineasta, Abbas Kiarostami. Mas é também um modo de falar de um país em estado, de algum modo, nascente. E da ruptura entre infância e idade adulta, em situações políticas extremas.
"Monkey Kid" fala de crianças que crescem durante a Revolução Cultural, em pleno culto ao presidente Mao, suas idéias, sua figura.
É sob o signo de Mao que cresce, em particular, Shi-Wen (a notável Fu Di), a menina sob cuja ótica é apresentado todo o filme. Cresce longe do pai (mandado para um campo de trabalho no interior do país), tendo de aprender a conviver com toda sorte de problemas: em casa, na escola, na rua.
Shi-Wen (e suas irmãs) tem pela frente problemas tão vastos e díspares quanto a necessidade de combater os mais fortes com a inteligência ou a tímida descoberta da inteligência.
A figura do pai é, no entanto, central. Ao voltar para casa mais do que na ausência. Talvez porque o pai se mostre excessivo, tirânico. E a experiência do crescimento sob um pai tirânico torna-se mais problemática.
Talvez seja este o viés encontrado pelo diretor Xiao-Yen Wang para dizer que a figura paterna, quando ostensiva demais, é muito mais fonte de insegurança do que sua ausência.
Talvez seja essa a maneira encontrada pelo cineasta para criticar a tutela tirânica do Estado. Porque, não é o caso de esquecer, a censura continua viva e ativa na China. (Inácio Araujo)

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