São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 1995
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Bienal integra cinema e vídeo

Evento celebra centenário em BH

AMIR LABAKI
EM BELO HORIZONTE

Nascida ForumBHZvideo, a rebatizada Bienal Internacional de Vídeo de Belo Horizonte aproveitou a celebração do centenário do cinema para debater, na semana passada, os vetores comuns das duas artes. Para além dos guetos, o festival deste ano pesquisou em mostras e instalações a herança comum da produção audiovisual hoje de ponta. Se Dziga Vertov era um "videasta avant la lettre" como defende Gianni Toti (homenageado em BH com uma retrospectiva), Bill Viola é um dos mais talentosos continuadores de Andrei Tarkovski -e não há porque ainda resistir a esse saudável cruzamento.
O ponto alto da Bienal de BH foi o chamado Programa Eixo, que reuniu mais de sessenta obras experimentais, de Lumière a Viola, propiciando uma visão panorâmica da vanguarda audiovisual neste século, pouco importando a origem em filme ou vídeo. A mostra valeu por um supletivo, reunindo dos pioneiros do cinema (Lumière, Mélis) aos do vídeo (Emshwiller, Paik), da primeira vanguarda francesa (Buñuel, Clair, Man Ray) aos atuais experimentadores gauleses (Kuntzel, Bériou), frisando a linha de continuidade entre os inovadores americanos do pós-guerra (Deren, Brakage, Mekas) e a aurora do vídeo.
A mesma questão marcava presença em duas da quatro videoinstalações especialmente montadas para o evento. Em "Máquina Zero", dois telões com imagens de um transplante de córneas, separados por uma tela menor com um rodízio incessante de entradas de um computador, defendem com forte inpacto visual a necessidade de estabelecer-se um olhar novamente virgem sobre a história do audiovisual. Já Álvaro Andrade Garcia e Eduardo de Jesus utilizam um computador para realizar "Quadro Cinético", uma tela do pintor Jorge de Anjos que lenta mas interruptamente altera sua composição: a imagem em movimento, mínimo denominador comum da produção audiovisual, pauta uma verdadeira obra aberta.
A Bienal Internacional de Vídeo é até aqui o auge do riquíssimo calendário de celebração do centenário organizado em Belo Horizonte. Com um comitê municipal específico para preparar essa comemoração, que quase se confunde com o centenário da própria cidade (cem anos em 1997), Belo Horizonte impõe-se como a exceção positiva na omissão brasileira frente os festejos dos cem anos.
Entre os vários eventos programados, destacam-se uma exibição de réplicas de aparelhos pré-cinematográficos ("Feira de Ilusões"), dois programas anuais de projeção gratuita de filmes e o próximo lançamento de dois livros, contando a história das salas de cinema da cidade e reunindo pontos altos da forte tradição crítica municipal. Fundamental é também o trabalho de preservação e catalogação de um dos principais acervos fílmicos da cidade, o da Minas Filmes, criada em 1949 por José de Araújo Cotta.
Paulo Emílio Salles Gomes não cansava de defender a importância das histórias locais de cinema. Por certo, sairia orgulhoso hoje de uma visita a BH.

O crítico Amir Labaki visitou Belo Horizonte a convite da Secretaria Municipal de Cultura.

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