São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 1995
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Governo de SP tenta proteger os cerrados

JOSÉ ALBERTO GONÇALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A Secretaria do Meio Ambiente (SMA) quer estancar a destruição da vegetação do cerrado no Estado de São Paulo.
Desde a semana passada, um grupo técnico do Probio (programa estadual de biodiversidade) está analisando pedidos de licença para empreendimentos e desmatamentos nas áreas de cerrado do Estado.
"Não há legislação específica no país para a proteção do cerrado. Por isso, o Estado precisa exercer uma ação mais rigorosa na concessão de licenças a empreendimentos", diz Carlos Alfredo Joly, coordenador do Probio.
Além disto, a SMA estuda a criação de vantagens econômicas e compensações fiscais para o produtor rural que preservar as matas de cerrado em São Paulo.
Levantamento preliminar feito pela secretaria aponta que o cerrado ocupa no máximo 1% da área do Estado, segundo Joly.
Há 22 anos o percentual era de 4,36%, menos da metade dos 9% originais.
Nas duas últimas décadas, o desmatamento do cerrado ocorreu em ritmo mais acelerado do que nos 470 anos anteriores.
Há pouco mais de duas semanas, um workshop em Pirassununga (SP), com a participação de órgãos do governo, universidades, entidades rurais e organizações não-governamentais, elaborou uma série de propostas para o uso racional do cerrado.
Uma das propostas é que o produtor rural que tenha desmatado completamente sua fazenda possa cumprir a exigência de preservar 20% da mata nativa, comprando esse percentual em outra propriedade, com maior nível de conservação da vegetação original.
"Seria uma maneira de incentivarmos a preservação de grandes manchas de cerrado", diz Joly.
Normalmente, o fazendeiro que descumpre a exigência dos 20% é obrigado a reflorestar.
Segundo os técnicos da SMA, o reflorestamento individual das fazendas muitas vezes cria ilhas pequenas e isoladas de cerrado, prejudicando o equilíbrio deste ecossistema.
O desmatamento do cerrado cresceu nos anos 60, com os incentivos ao reflorestamento por eucalipto, árvore que não necessita de muitos nutrientes.
Era mais fácil promover o reflorestamento nas áreas de cerrado, pois suas terras eram mais baratas devido à baixa fertilidade.
Nos anos 70 e 80, segundo Paulo Martuscelli, biólogo e consultor da SMA, a devastação acelerou-se, por causa da expansão das pastagens, da cana e da laranja.
"Destruiu-se muito mais do que se pesquisou nos últimos 20 anos", diz Martuscelli, ao revelar que as espécies animais e vegetais do cerrado ainda são pouco estudadas pela comunidade científica.
"Como o solo do cerrado é pobre, ele foi deixado por último no processo de ocupação econômica do Estado", diz.

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