São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 1995
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Incra e MST criam a 'UTI dos sem-terra'

ANA MARIA MANDIM
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Francisco Graziano, inicia hoje, em Brasília, o que chamou de "UTI dos acampamentos de sem-terra".
Ele discutirá com as entidades ligadas à reforma agrária a situação dos acampamentos de sem-terra em 19 Estados. São 94 acampamentos onde vivem cerca de 20.000 famílias.
Graziano pretende fazer cinco audiências públicas por dia, na sede do Incra, com a participação de representantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e Sociedade Rural Brasileira, que reúne proprietários.
O anúncio de Graziano foi feito após a reunião de 1h40m que teve na manhã de ontem com oito integrantes da direção do MST. O encontro realizou-se na escola de 1º Grau do Assentamento 1 de Sumaré, a 125 km de São Paulo.
Ao final da reunião, Graziano e João Pedro Stedille, porta-voz do MST, disseram que vão lutar e trabalhar juntos pela reforma agrária, e que seu maior "adversário", segundo Graziano, e "inimigo", segundo Stedille, são "as terras improdutivas do latifúndio", de acordo com o primeiro, e "o latifúndio", de acordo com o dirigente nacional do MST.
O clima de entendimento da reunião só foi arranhado quando João Pedro afirmou que o MST "continuará a organizar os trabalhadores rurais para ocupar as terras improdutivas" porque "este é o seu papel".
Graziano afirmou que, "se o poder público for eficiente na delimitação e desapropriação de terras, não há por que ficar ocupando". O presidente do Incra havia dito "ficar invadindo terras", mas corrigiu-se imediatamente.
Graziano prometeu que o Incra "vai correr atrás das terras improdutivas" e considerou "atitude extremista" a formação de milícias por alguns fazendeiros, respondendo à pergunta de um jornalista.
"A reforma agrária não pode se transformar em um caso de polícia", disse o presidente do Incra. "Ao contrário, é o remédio contra a violência."
O MST apresentou uma lista com 13 reivindicações, obtendo de Graziano o apoio para interceder junto aos governadores para evitar o uso da PM nos casos de despejo de famílias de sem-terra.
O presidente do Incra também prometeu participar da elaboração de projeto de lei que proíba aos juízes conceder liminar de despejo em conflitos pela terra.
O MST reivindica que a justiça atue como nos despejos urbanos, ouvindo as duas partes. "O Faustão e a Xuxa falam em reforma agrária", disse, rindo. "Até a Gabi Gabriela me convidou para seu programa", disse Stedilli.
Após a reunião com o MST, Graziano reuniu-se com representantes dos acampamentos 1 e 2 de Sumaré, assentados em terras da Fepasa (Ferrovias Paulistas S/A), de Iperó, Tremembé e Porto Feliz. Às 14h25m, Graziano voltou para São Paulo em uma camionete.

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