São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 1995
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Rede mundial ;Efemeridade é risco

PAULO SILVA PINTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Livrarias vão imprimir as obras na hora
Mesmo custando mais, a impressão limitada de cópias computadorizadas deve crescer, prevê especialista
A informação eletrônica, que muita gente vê como concorrente dos livros, vai salvar bibliotecas da morte. A previsão é do professor britânico radicado nos EUA Stuart Lynn, ex-vice-presidente de tecnologia da Universidade de Cornell.
Hoje trabalhando em consultoria, Lynn foi o responsável pela implantação do programa de bibliotecas digitais na Universidade de Cornell e presidiu uma ONG (Organização Não-Governamental) que defende a conservação de acervos de informação. Ele fez palestras recentemente no Brasil, a convite da Xerox.
O problema das bibliotecas está em uma revolução tecnológica do passado. A partir da segunda metade do século 19, os livros ficaram mais baratos com a introdução de um papel ácido, ainda utilizado.
A desvantagem desse papel apareceu com o tempo: os livros acabam se esfarelando, o que não acontece com os mais antigos.
Para salvar seu acervo, as universidades dos EUA estão digitalizando os livros. As páginas são fotografadas e transformadas em informações digitais -sequências de algarismos um ou zero. Essas informações ficam armazenadas nos computadores.
Quando é necessário consultar os livros, basta fazer cópias fac símiles, que saem encadernadas e com capas coloridas plastificadas.

Rede mundial
Os usuários da Internet, a maior rede de comunicação entre computadores do mundo, vão ter um benefício indireto desse trabalho.
Nos próximos anos, os livros das bibliotecas universitárias devem ser acessíveis integralmente por meio da rede. Hoje, só há informações disponíveis sobre os livros, uma espécie de "ficha" eletrônica de consulta. Não dispensa pedir para alguém mandar por fax o trecho que interessa.
Lynn duvida que a consulta de livros armazenados integralmente no computador substitua o papel. "Experimente ler uma obra de 300 páginas na tela", desafia.
Na sua opinião, o que vai acontecer é a transmissão eletrônica das obras das bibliotecas para impressão e encadernação do outro lado do mundo.
Ele prevê o mesmo para as livrarias: devem virar locais onde os livros serão escolhidos e impressos eletronicamente, na hora.
"O custo de impressão por esse sistema pode ser maior, mas economiza-se na distribuição e na ausência de sobras. Você pode ter uma tiragem de um livro só, se quiser", diz Lynn.
Ele afirma que o primeiro passo foi dado na Internet em 94, quando começou a ser possível comprar pacotes de informação (livros eletrônicos) com cartão de crédito.
"Os editores vão se transformar em pessoas que selecionam para você a imensa quantidade de obras à disposição na rede", diz ele.

Efemeridade é risco
Mesmo se considerando um "deslumbrado" por tecnologia, Lynn afirma que a revolução da informática está longe de garantir a conservação das obras que já foram produzidas até agora e das que serão produzidas.
O risco está na efemeridade da tecnologia. Disquetes que eram revolucionários há anos não entram nas máquinas mais novas. Os CDs que hoje armazenam enciclopédias inteiras podem ser ilegíveis por computadores do futuro.
"Quanto custa um computador pessoal? US$ 2.000? Não, eu digo para as pessoas, custa US$ 1.500 anuais para o resto da sua vida. A transformação da tecnologia é inevitável", diz ele.
Para evitar a perda das obras com a efemeridade, Lynn defende a existência de instituições, ligadas ou não a governos, que fariam a "tradução" de um sistema a outro. Elas seriam subsidiadas por impostos sobre a venda de produtos de informática.
Deixar a "tradução" acontecer naturalmente não adianta, segundo Lynn. É muito caro fazer isso com a imensa quantidade de informações armazenadas.

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