São Paulo, sábado, 28 de outubro de 1995
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Gastos com juros chegam a R$ 5,7 bi

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo gastou de janeiro a setembro deste ano R$ 5,73 bilhões com os pagamentos dos juros reais (acima da correção monetária) da dívida interna. Segundo dados do Tesouro Nacional, essas despesas cresceram 11% em relação ao mesmo período de 94, quando os gastos somaram R$ 5,148 bilhões.
Como comparação, o governo tenta aprovar no Congresso o novo imposto do cheque para financiar a Saúde com a arrecadação de R$ 6 bilhões ao ano.
As despesas com a dívida são ainda maiores se forem contabilizadas não apenas as taxas acima da inflação, mas os juros totais. Neste caso, a despesa chega a R$ 11,8 bilhões até agosto, segundo números do Banco Central.
A explosão da dívida interna em títulos no segundo semestre, provocada pelos juros do Banco Central, é a principal ameaça ao equilíbrio das contas públicas. A partir de julho, o débito saltou de R$ 69,5 bilhões para R$ 98,4 bilhões.
O secretário do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, disse que não fará previsões sobre o déficit nas contas do governo federal neste ano. Mas previu que as despesas aumentarão em outubro e dezembro.
O governo fixou a meta de déficit zero do setor público neste ano -isto é, pretende que a arrecadação empate com aos gastos. Entretanto, a expectativa hoje vale somente para o governo federal -Estados e municípios vão fatalmente estourar suas contas.
Em setembro foram gastos R$ 335 milhões com os juros reais da dívida interna. É um gasto 21% maior que o de setembro de 94.
O estouro nos gastos públicos acumulado até setembro está em R$ 1,257 bilhão. Segundo Portugal, existe a previsão para aumento de gastos também em outubro e dezembro, devido à dívida externa e ao décimo-terceiro.
Para Portugal, será difícil reduzir mais os gastos. "Vai ser difícil conseguir reduções maiores do que as que já vem sendo feitas."
O governo está comprimindo principalmente despesas de investimento e custeio. Elas encolheram 22% em setembro em relação ao mesmo mês de 94.
Atualmente, o ministério que vem levando a maior parte do bolo é a Saúde. De um total de R$ 1,1 bilhão em setembro, a pasta de Adib Jatene ficou com R$ 650 milhões. Todos os outros ministérios, juntos, repartiram R$ 250 milhões.
Além de os gastos serem de difícil compressão, o governo enfrenta outro problema: as receitas não vão crescer mais tanto quanto antes. A inflação deixou de corroer a base de cálculo dos impostos.

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