São Paulo, sábado, 28 de outubro de 1995
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Banco Mundial da Mulher ajuda microempresárias

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

Emprestar de US$ 50 a US$ 500 para mulheres que desejam criar seu próprio negócio representa um dos principais mecanismos para combater a pobreza e aumentar a participação feminina no mercado de trabalho. Quem desenha a estratégia é a norte-americana Nancy Barry, presidente do Banco Mundial da Mulher, que comanda o movimento mundial de "microempréstimos".
Criado em 1975 no México, na 1ª Conferência Mundial da Mulher, o BMM se esforça hoje para espalhar pelo mundo a idéia do microempréstimo. Seus tentáculos já existem em 42 países.
No mês passado, Nancy Barry esteve em Pequim, na 4ª Conferência Mundial da Mulher. Tentando provar aos bancos comerciais que sua idéia é um bom negócio, menciona que a taxa de devolução dos empréstimos sem atrasos é de 95%. "As mulheres são muito responsáveis", diz.
E Nancy enfatiza que o BMM não faz discriminação. Segundo ela, 20% dos clientes são homens.

Folha - Na Conferência Mundial da Mulher discutiu-se muito como o acesso a empréstimos deve constar da lista de direitos humanos e de direitos da mulher. Deve ou não?
Nancy Barry - A chave para o Banco Mundial da Mulher e para o microfinanciamento é achar fórmulas que façam todos vencer. O banqueiro tem que conseguir lucro, a mulher de baixa renda também. Se chamarmos de direitos humanos, quer dizer que alguém tem que dar crédito às mulheres sem levar em consideração riscos e custos. O que dizemos é que crédito é o meio mais importante para se lutar contra pobreza e criar um desenvolvimento amplo. Mas a resposta não é forçar ninguém a conceder créditos sob o argumento de que é um dos direitos humanos.
Folha - Qual é o principal sucesso do BMM até hoje e qual seu maior fracasso?
Barry - Nosso maior sucesso é ter começado o movimento que proporciona o acesso da mulher de baixa renda a créditos. Temos conseguido fazer com que o mundo mude sua visão a respeito das mulheres de baixa renda. Elas não são mais vistas como vítimas, mas como um dos agentes de mudança. Nosso maior fracasso é o seguinte: se você considerar nosso banco e outras instituições semelhantes, verá que atingimos apenas 2% dos empresários de baixa renda. Atingimos 10 milhões de homens e mulheres e existem 500 milhões para serem atendidos. Não considero isso um fracasso. Nosso objetivo é atingir 100 milhões de pessoas em 2005.
Folha - Quais os mecanismos para se atingir o objetivo?
Barry - Precisamos atrair bancos comerciais, bancos de desenvolvimento. É por isso que o BMM organizou este ano o "conselho de inovações". Reunimos nos EUA 70 dos mais inovadores banqueiros. E de nossa parte, procuramos ajudá-los a achar alternativas para reduzir gastos e riscos.
Folha - Onde estão as 500 milhões empresárias de baixa renda?
Barry - No Brasil, China, Índia. Nos EUA e partes da Europa, as empresárias de baixa renda existem. Não é um problema apenas de Terceiro Mundo.

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