São Paulo, sábado, 28 de outubro de 1995
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Preso por homicídio leva detentos a médico

KENNEDY ALENCAR
DO ENVIADO ESPECIAL A BRAGANÇA PAULISTA

O caminhoneiro Antônio Carlos Versone, 37 anos, 102 kg, condenado a 19 anos e seis meses por homicídio duplo, é o líder dos presos em Bragança Paulista. A direção da Apac afirma que confia totalmente nele.
Toninho, como é conhecido, escolta presos até a delegacia, conserta o telhado, orienta os colegas. "Tem gente na cidade que pensa que sou policial", diz.
Uma vez, ao levar um preso para uma consulta num oftalmologista, conta que o médico quase desmaiou quando soube que ele também era um detento.
Antes de ir para Bragança, esteve na cadeia de Atibaia (a 65 km de São Paulo). Toninho relata que se repetia mensalmente a rotina de mortes, brigas e tentativas de fuga. "Um inferno", diz.
Quando chegou a Bragança, ainda não havia a Apac. Afirma que sempre trabalhou nas cadeias: "Se você não ocupa a cabeça com coisa boas, está perdido". O delegado e o juiz escutam a sua opinião sobre os detentos e a atividades da Apac.
Toninho afirma que "uma minoria de 20" resiste à associação, mas acredita que a maioria aceita e vai poder viver normalmente em sociedade. "Só quem não tem família e gosta de patifaria é rebelde", diz.
Quando algum preso pode trazer problemas, Toninho diz que conversa com ele e tenta orientar.
Se o preso não ouve, afirma que comunica à associação e vai cuidar de quem quer ajuda. "Mas também não deixo ninguém tomar as coisas dos outros nem atrapalhar quem quer se recuperar."
Toninho é casado e tem 2 filhos. Fã da cantora sertaneja Roberta Miranda, ele terá direito a prisão albergue domiciliar daqui a três meses.
Afirma que, no momento, só pensa em poder voltar a viver com a família e ter uma vida normal. "Uma cadeia, por mais que seja diferente, é sempre uma cadeia", diz.
(KA)

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