São Paulo, sábado, 28 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crônica de Lupicínio resgata era da boemia

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Livro: "Foi Assim"
Organização: Lupicínio Rodrigues Filho
Preço: R$ 15,50 (124 págs.)

Um livro a ser lançado nos próximos dias mostra que o rei da dor-de-cotovelo foi também um cronista muito bem-humorado.
A obra se chama "Foi Assim" e reúne 42 crônicas escritas por Lupicínio Rodrigues ao longo de um ano, a partir de 9 de fevereiro de 1963, no jornal "Última Hora", de Porto Alegre.
Autor de mais de 200 músicas, Lupicínio Rodrigues (1914-1974) se consagrou como o compositor de algumas das mais melodramáticas peças da música brasileira, como "Cadeira Vazia", "Vingança" e "Felicidade", entre outras.
O nome escolhido para a coluna no jornal -"Roteiro de um Boêmio"- já anunciava o tema principal de suas crônicas.
Lupicínio se dedicou a contar as histórias (verdadeiras, segundo ele) que deram origem a algumas de suas mais famosas canções.
O estilo é simples, quase bobo, mas os fatos que narra e as opiniões que dá sobre a vida boêmia ajudam a entender uma época.
Na estréia, didaticamente intitulada "O que é um boêmio", Lupicínio primeiro esclarece que o boêmio não é "um indivíduo sem caráter, que não trabalha, que vive a cometer desajustes, ou mais comumente: um vagabundo".
O boêmio, explica, "em princípio, é um notívago, depois um poeta, um amoroso, um admirador das serestas e é realmente um companheiro da lua".
O sucesso dessa crônica obriga o autor de "Se Acaso Você Chegasse" a escrever um novo texto sobre o assunto, desta vez intitulado "Boêmio deve casar?"
O que vem em resposta é puro Nelson Rodrigues: "Se fizermos uma média, vamos ver que os boêmios solteiros raramente atingem os 40 anos, enquanto os casados morrem de velhos, isto quando tiverem a sorte de encontrar no casamento a sua segunda mãe".
O cenário de suas histórias é sempre Porto Alegre, cidade onde nasceu, mas os temas e personagens vão soar familiares a boêmios de qualquer cidade.
Em "A Praga", por exemplo, Lupicínio, que era casadíssimo, desenvolve a curiosa tese de que a inflação brasileira de 1963 é uma praga feminina.
Por causa da inflação, os homens acumulam menos namoradas, anota.
Quando o dinheiro valia mais, explica, os homens tinham mais facilidade para agradar, com presentes, um número maior de mulheres.
Com a inflação, um homem não é mais capaz de namorar dez mulheres ao mesmo tempo.
Como todas as crônicas, "A Praga" encerra com a publicação da letra de uma música. No caso, o samba "O Amor É um Só".
Talvez por perceber que, em 1963, o glamour da boemia já tinham passado, Lupicínio é muito didático ao narrar alguns fatos de seus melhores anos.
Em "Serenata", por exemplo, o compositor explica que há três tipos de serenata, e que a melhor é aquela em que o apaixonado está brigado com sua amada.
O livro, nas livrarias a partir de segunda-feira, será lançado oficialmente no dia 9 de novembro, com uma seresta, na 41ª Feira do Livro de Porto Alegre (praça da Alfândega, centro).

Texto Anterior: "É uma grande brincadeira, este Drácula"
Próximo Texto: Memorial homenageia o encenador argentino Victor Garcia com debate
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.