São Paulo, sábado, 28 de outubro de 1995
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Abdias do Nascimento retrata orixás como forma de resistência cultural

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

O professor Abdias do Nascimento, 81, lança seu primeiro livro de pinturas -"Orixás, Os Deuses Vivos da África"-, que reúne poesias, ensaios e 74 reproduções em cores de suas pinturas.
Todas as pinturas reproduzem orixás. "Foram os orixás que resolveram me usar como instrumento para pintar. Pode me chamar de um homem de uma pintura", brinca.
A obra é dedicada a Zumbi, com quem Nascimento traça um paralelo.
"A resistência cultural é a mesma. É parte de um mesmo protesto contra a humilhação do negro no Brasil. Tudo isso é parte da mesma luta", afirma ele, um dos principais ativistas do movimento negro no Brasil.
"Orixás, Os Deuses Vivos da África" será lançado primeiro nos EUA, com diversas palestras: amanhã na Coleção Afro-Americana Schomburg, na Biblioteca Pública de Nova York; dia 31 em Washington; e, dia 2, na Universidade de Maryland.
No Brasil haverá lançamentos em Belo Horizonte (dia 9) e Rio de Janeiro (dia 13).
No dia 21 de novembro, às 19h, o livro será lançado em São Paulo, durante o Congresso Continental dos Povos Negros das Américas, no Memorial da América Latina (Av. Mario de Andrade, 664, Barra Funda).
O livro não estará disponível em livrarias, só nos lançamentos promovidos pelo autor. Nascimento explica que sem intermediários até o consumidor o preço baixa. O livro tem 170 páginas, foi impresso em papel cuchê, sai por R$ 120,00. Quem não for aos lançamentos e quiser o livro pode ligar para 021/222-8051.
O livro é o testemunho de um pintor tardio.
Nascimento começou a pintar em 1968, pouco antes de ir para o exílio. "Nunca frequentei escola de pintura. Nunca consegui pintar as casinhas que o meu filho faz."
A prática se desenvolveu nos 13 anos vividos nos exterior. "Nos EUA, havia o isolamento da língua. Eu procurei coisas em mim mesmo. Foi a forma de me comunicar", conta.
Nascimento não sabe o que o levou a pintar tão tardiamente. A pintura é apenas mais uma forma de Nascimento tratar da cultura afro-brasileira.
Para Nascimento, que é suplente de senador (PDT-RJ), a situação do negro no Brasil está piorando. "Nossa 'democracia racial' conseguiu transformar o negro em invisível e inaudível. Aqui se mata negro como se mata cão. Mas quando é coisa de divertir, como música e futebol, os brancos adoram os negros", diz.

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