São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 1995
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Indecência

Da dinastia francesa dos Bourbon, dizia-se, não sem um certo deboche, que eles não esqueciam, mas também não aprendiam.
Para um grupo de deputados estaduais da Paraíba, deve-se levar o deboche muito mais longe: aprender, de fato, não aprendem. Mas esquecer, esquecem e com facilidade.
Prova-o o recurso à Justiça para manter um privilégio indecente, o de aposentar-se apenas após um único mandato (de quatro anos), desde que tenham sido prefeitos ou vereadores em algum momento.
O obsceno recurso demonstra que os deputados não aprenderam nada, absolutamente nada, sobre os mais comezinhos princípios éticos e morais inerentes, acima de tudo, à função pública.
E esqueceram, muito rápida e convenientemente, o profundo e crescente repúdio da opinião pública aos políticos em geral, constatado a cada campanha eleitoral, e do qual se queixam os candidatos (antes de serem eleitos, claro).
De nada adianta, depois, atribuir a uma suposta má vontade da mídia ou a campanhas de adversários o descrédito da classe política. Iniciativas como a dos deputados paraibanos só podem mesmo provocar, mais do que descrédito, a ira do eleitorado.
O pior é que parece inútil torcer para que pessoas como essas aprendam algo que não seja apenas o uso de todos os instrumentos possíveis para cercar-se de privilégios indecentes.

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