São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 1995
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Confusão de números

MARCELO BERABA

SÃO PAULO - O prefeito Paulo Maluf se submeteu a duas sabatinas na semana que passou: segunda-feira, no "Roda Viva" da TV Cultura; e quinta, no "Gazeta Meio-Dia", da CNT/Gazeta. Nas duas deixou sem respostas convincentes algumas questões.
A que considero mais importante é a que trata do endividamento de São Paulo. É uma discussão árida, mas que interessa a todos porque diz respeito ao futuro da cidade.
Os críticos do prefeito informam que os túneis e avenidas estão sendo construídos e inaugurados às custas de um grande endividamento e da redução de investimentos na área social.
O que disse o prefeito nas duas ocasiões: São Paulo não se endividou na sua gestão e ele está fazendo grandes investimentos na área social.
Luiza Erundina, segundo Maluf, teria lhe passado a Prefeitura com uma dívida de R$ 2 bilhões em valores atualizados e ela hoje seria exatamente do mesmo tamanho.
Os dados não batem com informações de assessores do PT coletadas na Secretaria de Finanças: a dívida deixada por Erundina teria sido de R$ 2,5 bilhões e estaria agora em R$ 4,7 bilhões -uma aumento de cerca de 85%.
De acordo com estes dados, o crescimento maior é da dívida mobiliária: teria passado de R$ 1,1 bilhão para R$ 3,5 bilhões (quase 220% de aumento). É exatamente esta dívida que mais preocupa por causa das taxas de juros.
Ao contrário do que informou no "Roda Viva", a Prefeitura estaria emitindo títulos e gastando -e não necessariamente no pagamento de precatórias e rolagem de dívidas.
As divergências entre os números não são recentes. O secretário Celso Pitta -aliás o único que, sintomaticamente, acompanhou o prefeito nos dois debates- tem perdido parte do seu tempo tentando justificar estas divergências e provar que é boa a situação financeira da Prefeitura.
O ponto relevante é que o cidadão que mora e paga seus impostos em São Paulo (assim como em milhares de outras cidades) literalmente desconhece a realidade das contas públicas.
Tudo -orçamento, balancetes, demonstrativos mensais de despesas, sistemas de execução orçamentária e o diabo- é feito para confundir.

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