São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Um refém no Planalto?

VALDO CRUZ

BRASÍLIA - O esporte predileto do governo, hoje, é falar mal do presidente do Congresso, José Sarney. Do Palácio do Planalto ao Ministério do Planejamento, chama-se o senador de tudo: de oportunista a fisiológico.
É claro que os "comentários" são feitos sob a condição do anonimato. Ninguém quer aparecer publicamente criticando o político que chefia o Congresso. O atrevido teria muito mais a perder do que o senador.
O motivo da ira governista são as dificuldades que Sarney está criando na tramitação do Fundo Social de Emergência. O governo pede a prorrogação por quatro anos do Fundo criado nos tempos de FHC na Fazenda.
A equipe econômica do hoje presidente diz que, sem o Fundo -uma forma de o governo tapar os rombos do Orçamento desvinculando receitas-, as contas públicas podem sair do controle e o Plano Real correria risco.
Na ótica palaciana, Sarney, de olho na sucessão do Planalto, quer transformar FHC num eterno refém. Não deixaria de aprovar medidas do governo, mas nunca do jeito que o Planalto quer.
Por isso, até toparia prorrogar o Fundo, mas não pelos quatro anos pedidos pelo presidente. Sua turma estaria trabalhando para dar um fôlego ao caixa do governo FHC de uns 18 meses apenas.
Daqui a um ano e meio, o presidente teria que bater novamente na porta do senador para suplicar uma nova prorrogação do Fundo. Aí, o cenário político pode ser outro.
Além das ambições políticas, os assessores de FHC comentam que Sarney também estaria atrás de verbas para o Estado do Maranhão, chefiado por sua filha Roseana.
O presidente do Congresso reage irritado. Primeiro, diz que é contra o Fundo por considerá-lo inconstitucional. Segundo, afirma que não é a favor de nenhum tipo de prorrogação. Terceiro, que sua filha sabe caminhar com os próprios pés.
Nessa história não há santo. Apesar de negar, Sarney anda pensando na sucessão de FHC. Pode não fazer tudo o que o governo diz, mas não deixa de mexer seus pauzinhos de olho no futuro político.
Já o governo sofre de um grande mal. Alguns de seus membros se acham donos da verdade. Desafiados, optam por distribuir farpas nos bastidores. Precisam aprender a conviver com opiniões diferentes.

Texto Anterior: Confusão de números
Próximo Texto: A crise e a sirene
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.