São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 1995
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Confirmada a estimativa de queda da receita agrícola

FERNANDO HOMEM DE MELO

A Folha de 22 de outubro publicou uma matéria em que o pesquisador Alfredo Tsunechiro, do Instituto de Economia Agrícola, contesta nossas estimativas de queda da receita agrícola em 1995. Os comentários abaixo baseiam-se no press release, já que não recebemos o seu trabalho completo.
As estimativas de Tsunechiro chegam ao extremo de colocar um possível crescimento de R$ 3,4 bilhões para a receita agrícola em 1995, o correspondente a 12,2%.
Evidentemente, essa estimativa está inteiramente fora da realidade agrícola deste ano. Como conciliar toda a crise agrícola, os problemas sociais, os protestos (caminhonaços), as incapacidades de pagamento, os dramas familiares, as renegociações de dívida e a securitização com um tal expressivo crescimento de renda agrícola? Essa conciliação é impossível.
Em nosso entendimento do press release (pois não recebemos o estudo completo), Tsunechiro chegou a esse irreal resultado por esbarrar em um problema metodológico: utilizar a inflação de 5,47% pelo IGP-DI em julho de 1994 para deflacionar os preços agrícolas nominais. Isso enviesou os seus resultados para cima de modo substancial, chegando até a estimar crescimentos de receita. Vamos confirmar isso.
Ainda com base no press release do Instituto de Economia Agrícola, fica aparente um possível problema com o valor da produção de banana. Na estimativa de Tsunechiro, o valor dela está em R$ 3,515 milhões e em R$ 3,875 milhões em 1995.
Deve haver um erro de cálculo para mais (e bem mais) aí, pois esses valores colocam a banana como quarto produto mais importante em valor em nossa agricultura, o que não está correto (superando o café, a laranja e o arroz). Esse erro causou uma grande superestimativa da receita agrícola em 95.
Adicionalmente, as tabelas 1 e 3 do press release mostram preços reais menores em 1994 do que os publicados na revista "Agroanalysis". Evidentemente, isso causa uma subestimativa dos valores de produção em 1994 e, consequentemente, provoca uma redução da queda da receita agrícola.
Desconheço as razões que levaram Tsunechiro a trabalhar com valores de preços reais diferentes e menores que os da própria fonte dos dados básicos ("Agroanalysis"). Seja como for, o efeito foi grande na redução da receita total em 1994.
De outro lado, nós também estimamos a receita agrícola com preços médios de diferentes momentos. Para janeiro-maio, o nosso resultado, desafiado por Tsunechiro, foi de R$ 9,6 bilhões. Para janeiro-julho, a nossa estimativa é de R$ 9,2 bilhões, praticamente coincidindo com a anterior.
Não somos imunes a erros, mas, a cada dia que passa, mais confiança temos em nossos resultado. As implicações econômicas e sociais desse resultado são muito importantes.
Para concluir, esses resultados são inteiramente compatíveis com a redução média de 7% a 8% no tamanho da próxima safra. Basta que a elasticidade-preço da oferta agrícola de curto prazo seja da ordem de 0,3, uma magnitude próxima das de estudos empíricos.
Finalmente, nossas estimativas têm sido acompanhadas de análises econômicas que as justificam: as "âncoras" monetária e cambial, a inoperância da política agrícola em um ano de grande produção e as excessivamente baixas tarifas de importação de produtos agrícolas. Isso tudo levou à âncora "verde" e à queda do valor real da cesta básica. Qual é a análise econômica para os resultados de Alfredo Tsunechiro?

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