São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 1995
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Salsichas caras

O governo vai destinar cerca de 300 cargos públicos e empenhar verbas da ordem de R$ 2,6 bilhões para fazer aprovar no Congresso a prorrogação do FSE, a reforma administrativa e mudanças no IR.
É difícil ainda dizer se o acordo vai ou não se realizar, e se o "trade-off" é conveniente. Parece que o presidente, contudo, foi precipitado ao declarar a morte da fisiologia. Infelizmente nenhum país do mundo achou esse caminho.
Em maior ou menor grau, por mais democrática e primeiro-mundista que seja a nação, sempre se trocam cargos e verbas por apoio a determinadas votações -o que é uma coalizão senão um acordo pelo qual partidos se comprometem com um projeto e dividem o poder?
O problema não é novo. Atribui-se a Bismarck (estadista alemão do século 19) a seguinte frase: "Se o povo soubesse como são feitas as leis e as salsichas...".
No Brasil o preço de uma negociação política é cobrado duas vezes, e a moeda de troca visa muito mais a atender interesses pessoais de políticos do que a um projeto partidário. Ele é cobrado uma primeira vez no atacado, quando se faz a aliança, e, depois, no varejo. A cada votação importante ensaia-se uma rebelião, e o governo se vê obrigado a ceder mais e mais.
Esse comportamento, que é uma das inúmeras causas da difícil situação do país, não pode, infelizmente, ser extirpado, mas seus efeitos daninhos podem ser minorados. Trata-se, é claro, de um processo longo de mudança de cultura do eleitorado. O fato de ser um processo necessariamente lento não impede que ele seja catalisado por uma reforma política que fortaleça os partidos políticos e lhes dê maior consistência ideológica.
O voto ideológico, é óbvio, não é imune à tentação do vício fisiológico, mas ele tende a, diferenciando o amálgama ideológico nacional, facilitar a vida do eleitor na escolha de seus representantes. Reforçar a fidelidade partidária aliviaria o caixa do governo.

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