São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 1995 |
 |
|
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Prostituição Quem abrir o Aurélio no verbete "meretriz" encontrará 91 sinônimos para a profissão mais antiga do mundo. Num dicionário analógico, então, eles contam-se às centenas. Essa intimidade com que a língua trata o meretrício está associada à própria intimidade com que o meretrício trata a clientela. E, no que depende da juventude, a profissão não está com seus dias contados, mesmo com a Aids. Segundo pesquisa Datafolha realizada em quatro capitais, 26% dos rapazes e 21% das garotas acham que os teens iniciam sua vida sexual é com as profissionais mesmo. Não se pretende traçar aqui a história universal da prostituição, mas apenas apresentar alguns indícios de que ela acompanha o homem até onde se tem registro. De princípio, o vínculo -hoje paradoxal- entre religião e prostituição era bastante forte. Em quase todo o Oriente Próximo sacerdotes e sacerdotisas de templos erguidos aos deuses da fertilidade (Ishtar, Asterote) exerciam a prostituição sagrada, obtendo assim dinheiro para os seus templos que, não por acaso, tornaram-se os primeiros bancos de que se tem notícia. Havia um culto especial a Ishtar no qual mulheres de todas as classes sociais dirigiam-se às ruas na imediação do templo e tinham de deitar-se com o primeiro que passasse, fosse rico ou mendigo, feio ou bonito. As mais bonitas cumpriam rapidamente seu dever religioso, já as mais feias muitas vezes dependiam de encontrar um homem caridoso. Práticas semelhantes foram observadas no Egito, Grécia e Roma. Na Grécia surgiram as primeiras casas públicas de prostituição não-religiosa. Eram altamente taxadas. Mesmo as religiões mais moralistas eram coniventes com a prostituição. Os primeiros judeus participavam de ritos cananitas de prostituição até a reforma do rei Josiah (c. 622 a.C.). Para os árabes o Corão prevê o Mu'tah (prazer), um contrato de casamento a prazo fixo e pelo qual a mulher recebe para casar-se. Segundo os sunitas, esse princípio foi revogado por Umar 1º, o segundo califa. Para algumas seitas xiitas ele permanece válido. Na cristã Europa várias cidades tinham em seus bordéis uma fonte legítima de arrecadação. Foi só no século 16, com os adventos da sífilis e do puritanismo, é que essas casas começaram a ser fechadas. Se a iniciação sexual dos jovens com uma profissional é boa ou não deve ser objeto de discussão entre psicólogos, religiosos e sexólogos. O fato é que, com o advento da Aids, qualquer iniciação, com prostituta ou não, não pode prescindir da salvadora camisinha. Texto Anterior: Salsichas caras Próximo Texto: O descalabro Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |