São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 1995
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Sarjeta tecnológica

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Houve uma época em que os conflitos mundiais floresciam a partir da cobiça de imperadores e monarcas megalomaníacos. O poder era medido então sobretudo pela força dos exércitos e pela extensão territorial.
A Revolução Russa lançou no caldeirão das disputas mundiais o tempero da ideologia. Produziram-se rótulos de sabores variados: comunismo, nazi-fascismo, socialismo, liberalismo...
Com a consolidação da Guerra Fria o poder passou a ser medido também pelo comprimento das zonas de influência ideológica. O fim do mundo bipolar tornou mais complexa a queda-de-braço entre as nações.
O embate transferiu-se principalmente para a arena do conhecimento. O novo mundo transforma países como o Japão, nanicos territoriais, em ameaça para a espaçosa nação norte-americana. Na era da informação a melhor arma é o domínio da tecnologia.
O ambiente de supercompetição internacional torna a transferência de tecnologia uma prática decadente. Quem domina o conhecimento não o entrega de bandeja. Ou troca ou vende.
Nesse contexto o Brasil é uma espécie de indigente tecnológico. Investe pouco em ciência e tecnologia: menos de 1% do PIB. Países mais avançados chegam a despender 3% do PIB.
O ministro José Israel Vargas (Ciência e Tecnologia) gosta de brandir um dado que ajuda a explicar a penúria. O governo é responsável por 90% dos gastos em pesquisa científica e tecnológica. Grandes interessadas, as empresas entram com apenas 10%.
A proporção é inversa em outros países. No Japão as empresas respondem por 71,1% dos investimentos. Nos Estados Unidos bancam 51,5%. Na Alemanha, outro gigante tecnológico, o setor privado comparece com 60,5%. E assim vai.
Até o final de seu mandato Fernando Henrique espera aumentar as aplicações no setor para algo em torno de 1,5% do PIB. E, mais importante, quer ampliar a participação das empresas dos atuais 10% para 35% ou 40%.
Ainda que conseguisse cumprir as metas, não arrancaria o país da sarjeta tecnológica. Apenas avançaria na direção correta. São grandes, porém, as chances de frustração. O empresário brasileiro, como se sabe, não gosta de investir.

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