São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 1995
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A polícia e os sequestros

CARLOS HEITOR CONY

Antonio Carlos de Faria
RIO DE JANEIRO - Já são 88 os sequestros registrados oficialmente este ano no Rio. Em São Paulo os casos chegaram a 10, em Minas foram seis.
Pode-se especular que os cariocas e fluminenses estão sendo vítimas de sua cordialidade ou da geografia da cidade do Rio, ambos fatores que os aproximariam dos pobres.
Porém, deixando de lado os mitos, os números mostram que os policiais locais têm resultados piores do que os vizinhos paulistas e mineiros.
Mais que isso, como admite o delegado Hélio Luz, chefe da Polícia Civil, policiais são parte do problema.
O envolvimento de policiais com o crime organizado é do conhecimento da população há muito tempo e justifica a resistência das vítimas ou de seus familiares em recorrerem às autoridades.
Seis sequestrados estão em algum cativeiro, neste momento. Isso sem que se tenha certeza de que esse seja o número real, pelo simples fato de que há quem prefira o anonimato a confiar no trabalho policial.
A mudança da legislação, prevendo penas mais duras para os sequestradores ou impedindo que famílias de sequestrados façam uso de seus bens para pagamento de resgates são questões que carecem de maior debate.
Porém, a situação no Rio tem características específicas, que independem de alteração da lei. A banalização do sequestro exige uma ação decidida do governo estadual, seja em ações preventivas ou na reforma da polícia.
A sociedade não pode esperar passivamente que o Estado faça as mudanças necessárias. É preciso o engajamento dos cidadãos, em uma ação que diminua a criminalidade e ao mesmo tempo reforce as estruturas democráticas, impedindo a voracidade dos que querem soluções autoritárias.

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