São Paulo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995
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Diolinda estudou em Cuba por um ano, diz sua mãe

WAGNER OLIVEIRA

WAGNER OLIVEIRA; GEORGE ALONSO
DA AGÊNCIA FOLHA

A líder dos sem-terra na região do Pontal do Paranapanema que está presa em São Paulo, Diolinda Alves de Souza, 25, estudou em Cuba durante um ano.
A revelação foi feita por sua mãe, Diomara Maria Rosa, 67, que mora em um assentamento rural em São Mateus (norte do ES).
"Milha filha sempre foi muito inteligente, conhece muitas pessoas. Ela viajou muito e até foi estudar em Cuba", disse Diomara ontem à Agência Folha, por telefone, do posto da cooperativa do assentamento Val Vitória.
A mãe de Diolinda afirmou que se lembra de ter assinado uma autorização para que sua filha pudesse viajar ao exterior, pois tinha menos de 21 anos à época.
Diomara disse não saber o que a filha foi estudar em Cuba. "Eu não sei. Diolinda foi depois que acabou o colégio, quando tinha entre 17 e 18 anos, não estou bem lembrada", disse. Ela afirmou que a filha ficou um ano no exterior.
Sandra Marino da Costa, secretária da cooperativa, que se diz amiga da sem-terra, confirmou a versão da viagem para Cuba.
Mãe de 12 filhos, a assentada Diomara afirmou que se orgulha por Diolinda ter sido a única filha que conseguiu estudar e se destacar na liderança do MST.
Ela disse que ficou "revoltada" ao ver na TV as imagens da filha algemada. "Ela não ia correr. Por que, então, não a puseram no carro e a levaram sem a fazer passar por aquela humilhação?"
Em 1985, Diomara invadiu com cem famílias sem terra uma área devoluta (vaga) que pertencia ao Estado. Segundo ela, os invasores foram retirados do local pela polícia e colocados em um acampamento na beira da estrada.
"Mas, graças a Deus, 45 dias depois da retirada fomos assentados e finalmente consegui meus dois alqueires e meio de terra."
Diomara hoje mora com dois filhos solteiros em sua propriedade, onde planta café, milho e arroz e cria animais para subsistência. O marido morreu há cinco anos.
Ontem, Diolinda chorou ao saber que ficará mais tempo presa, porque havia sido negada pela Justiça a liminar em habeas corpus.
Apesar de manter-se firme quando fala com jornalistas, Diolinda chorou ao falar com o filho, anteontem, e ontem por duas vezes voltou a chorar -diante de dois deputados estaduais que a visitaram e na presença de seu advogado, Luiz Eduardo Greenhalgh.
Diolinda não está mais dividindo cela com uma traficante.

Colaborou GEORGE ALONSO, da Reportagem Local

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