São Paulo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995
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Talento como fator estratégico

LUÍS NASSIF

Uma das grandes inovações culturais introduzidas pelos novos bancos de negócios -responsável, em última instância, por sua dinâmica de crescimento- é a maneira como passaram a privilegiar o talento em detrimento do capital propriamente dito.
O sócio pode entrar com trabalho e capital ou simplesmente com trabalho. Mas não existe a figura do sócio meramente investidor. Em um período de globalização do mercado financeiro, o fator escasso é o talento, não o capital.
O modelo visa, em última instância, extrair o máximo possível desses talentos por meio de um sistema de cobranças recíprocas, que ajuda a impregnar todos os núcleos com a cultura da eficiência.
Em geral, a empresa é dividida por células. Em cada célula só há duas espécies de profissionais: sócios e candidatos a sócios. Quem não dispuser de potencial para ser sócio é excluído após o período regulamentar de experiência.
As células não são estanques. Pessoas de uma célula podem sugerir negócios para as de outra. Em geral, os sócios mais antigos acabam sugerindo negócios para todas, além de ter participação efetiva na definição da estratégia do grupo.
As participações acionárias não são fixas -e nisso reside a grande criatividade do modelo. Os resultados da empresa são divididos em três nacos. Em geral, a metade é reinvestida, 25% são distribuídos a título de dividendos e 25% a título de resultados.
Avaliação
Os sócios participam do bolo do reinvestimento e dos dividendos proporcionalmente à sua fatia do capital. Mas são aferidos dinamicamente por sua participação nos resultados.
O sistema de avaliação é amplo e democrático. Cada núcleo avalia a contribuição de cada pessoa (sócio e não-sócio, membro do núcleo e de outros núcleos) nos resultados finais alcançados. Depois, todos os núcleos se reúnem para definir a avaliação final.
É essa avaliação de performance que vai determinar a futura participação acionária de cada sócio. Se determinado sócio possui 12% do capital da empresa, por exemplo, mas por três ou quatro semestres a avaliação global é que contribuiu em apenas 8% dos resultados alcançados, ele é instado pelo grupo a abrir mão de 4% de sua participação em favor de outros sócios (ou candidatos a sócios) de melhor performance.
Com o tempo, os sócios com maior participação acionária vão diluindo sua participação no capital em favor dos novos talentos. Só que passam a ter participação menor, mas em cima de um patrimônio imensamente maior.
Esse modelo não comporta a figura do sócio passivo. Os que se acomodam perdem gradativamente posição acionária. E há regras claras de saída para os desmotivados. O grupo recompra sua participação, de acordo com seu valor patrimonial, em prazos de 12 a 24 meses.
Da mesma maneira, há regras claras impedindo a entrada de herdeiros. Cada sócio acumula patrimônio, não capital do negócio. Ocorrendo sua morte, os remanescentes recompram sua parte e os herdeiros receberão dinheiro vivo.

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