São Paulo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995
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Falsos amigos do povo

WALTER FELDMAN

O governo federal apresentou ao Congresso proposta de emenda que remove da Constituição a estabilidade do servidor público. É providência inadiável. Na forma atual, o engessamento dos postos de trabalho na administração pública é uma verdadeira bomba-relógio. Os recursos coletados por meio dos impostos são drenados para sustentar uma folha de pagamentos inchada -sem que isso signifique qualquer melhora salarial substantiva para a maioria dos funcionários. E mais: a persistir a estabilidade, Estados e municípios têm encontro marcado para breve com a falência pura e simples.
Tais evidências e a ameaça de colapso das máquinas administrativas deveriam bastar para que a discussão em torno da proposta do governo transcorresse de maneira menos passional.
Não é o que se vê. Os adversários do PSDB, unidos taticamente, apresentam o projeto do ministro Bresser Pereira como parte de uma grande conspiração destinada a liquidar o Estado e deixar a sociedade à mercê dos interesses privados. Aliás, é a ladainha que repetem a cada plano, a cada ação do atual governo. Apresentam-se como os "amigos do povo", sobrando para nós o papel oposto...
É preciso colocar um ponto final no maniqueísmo. As alternativas propostas pelo PSDB para modernizar a administração pública e lhe dar eficiência são absolutamente vitais para preservar e proteger o Estado, garantindo o papel regulador que consta do ideário social-democrata. Aqui em São Paulo, todas as iniciativas do governador Mário Covas caminham nessa direção.
A ação política do nosso partido vai no sentido exatamente oposto ao que pretendem nos imputar os adversários. Um Estado gordo, lerdo e ineficiente não é garantia de coisa alguma.
Minto. Tem sido a garantia da impotência do poder público diante do domínio de grupos, corporações e castas sobre uma máquina que deveria servir à população, e não dela se servir. Tem sido a certeza de desperdício escandaloso, já que os grossos recursos investidos apresentam retorno social muito abaixo do que seria desejável ou mesmo aceitável.
A todos nós envergonha o Brasil apresentar uma das piores distribuições de renda do mundo. Mudar radicalmente os tristes indicadores sociais deve ser prioridade conjunta do governo e do país.
Não podemos, entretanto, cair no desvario e supor que a solução está em o Estado acolher maciçamente os contingentes populacionais excluídos ou marginalizados. Já sabemos de antemão qual seria o resultado de uma política assim: mais pobreza, mais atraso, mais desigualdade.
A solução para o Brasil é crescer com justiça e distribuição de renda. Não o distributivismo canhestro de criar mais e mais empregos públicos, que serão certamente mal remunerados e ajudarão a perpetuar o domínio de oligarquias políticas arcaicas e corruptas. Queremos um distributivismo verdadeiro, em que se preserve a capacidade de investimento do Estado na formação de mão-de-obra, na segurança pública, na saúde.
É impossível perseguir tais objetivos se se mantiver a atual estrutura, que absorve bilhões e pouco ou nada dá em troca. Nossos adversários sabem disso, pois também são governo nos planos estadual e municipal. Mas preferem, como se diz, jogar para a platéia...

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