São Paulo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995
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Sandra Bullock prefere telefone a computador

ELAINE GUERINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Sandra Bullock não é aquela beleza de parar o trânsito, mas continua imbatível na direção de um ônibus, no guichê de uma estação de metrô e, agora também, à frente de um computador.
Desde que despontou em "Velocidade Máxima", no ano passado, a atriz americana encabeça a lista de mulheres mais desejáveis e concorre com as estrelas mais bem-pagas de Hollywood.
Em "A Rede" (The Net), que entra hoje em cartaz, a atriz arranca suspiros vivendo uma analista de sistemas que cai em uma armadilha cibernética e precisa recuperar a própria identidade.
Mais uma vez, o nome de Sandra nos créditos é mais que suficiente para garantir a bilheteria. O filme já arrecadou cerca de US$ 50 milhões em 11 semanas de exibição nos EUA.
É a segunda produção de 1995 que traz a atriz no papel principal. A primeira foi "Enquanto Você Dormia". No filme, que ainda está em cartaz no Brasil, Sandra vive uma solitária funcionária do metrô.
"Tenho trabalhado tanto que ainda não me dei conta do sucesso", disse a atriz em entrevista por telefone à Folha, concedida na última segunda-feira durante um intervalo de filmagem.
Sandra trabalha atualmente em "A Time to Kill", um policial baseado no romance de John Grisham, dirigido por Joel Schumacher e rodado em Jackson, capital do Mississippi (EUA). Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - Como você encara sua ascensão-relâmpago em Hollywood?
Sandra Bullock - Ainda não entendi direito o que aconteceu. Foi tudo muito rápido. "Velocidade Máxima" teve um impacto tão grande que, desde então, não parei mais de trabalhar.
Não consigo explicar o porquê de todo esse sucesso. Só sei que é uma experiência única. São tantos sentimentos. Coisas boas e más. Eu me surpreendo a cada dia.
A única coisa que me incomoda é perder a privacidade. Evito sair por aí. Não quero que assuntos pessoais sejam levados a público (a idade, por exemplo. Ela só revela que está na casa dos 30).
Folha - Acha que o fato de você parecer uma pessoa comum -o que raramente se vê entre as estrelas- pesou a seu favor?
Sandra - Sim. Sempre soube que eu não conseguiria um papel pela minha aparência. Desde o início, minha única preocupação sempre foi com o aspecto psicológico dos personagens.
Eu nunca me perguntei se tenho os atributos físicos para fazer determinado papel. Acho que essa postura me ajudou, me fortaleceu. Assim, não vou basear a minha carreira em uma coisa que vai acabar com o tempo.
Outro ponto a meu favor é que eu sou muito maleável. Posso mudar de cara com facilidade. Em "Two If By Sea"', por exemplo (outro filme em que Sandra trabalhou neste ano), apareço loira.
Folha - Como sua personagem em "A Rede", você também é louca por computadores?
Sandra - Antes de me envolver com o filme eu vivia ligada na Internet. Mas, ao descobrir como tudo isso realmente funciona, fiquei muito assustada.
É uma coisa tão nova que ainda não tem regras definidas. Ficou tão popular, em tão pouco tempo, que ainda não é segura o bastante.
Você pode revelar muitas coisas importantes sem esperar que alguém use as informações contra você. Isso me deixa paranóica.
Folha - É verdade que um de seus fãs descobriu sua conta na Internet?
Sandra - Sim. Um fã, uma pessoa que trabalha na própria Internet, entrou no meu sistema perguntando se eu era mesmo a Sandra Bullock. Claro que eu desmenti, mas fiquei apavorada.
Isso me fez ficar com mais medo de usar a rede. Enquanto não estabelecerem regras que assegurem a privacidade do usuário, eu prefiro evitar.
Por outro lado, isso foi até bom. Eu passava muito tempo em casa diante do computador. Agora, quando tenho tempo, prefiro falar com meus amigos pelo telefone. É muito mais saudável.
Folha - Tanto Lucy (de "Enquanto Você Dormia") quanto Angela (de "A Rede") são mulheres desamparadas. O que o público pode esperar de seus próximos personagens?
Sandra - Tenho feito papéis diferentes. Em "A Time to Kill", que estou filmando agora, faço uma estudante de direito muito esperta e independente. Ela começa a trabalhar em um importante caso de assassinato e se apaixona pelo seu chefe, um homem casado. É uma situação complicada.
Folha - Como anda o seu trabalho como produtora (a atriz montou uma empresa há dois anos)?
Sandra - Vou produzir meu primeiro grande filme no ano que vem. Chama-se "Kate & Leopold". É uma história de amor entre uma mulher dos anos 90 e um homem do século passado.
Vou fazer a protagonista, mas a idéia não é atuar em todos os filmes que produzir. Trabalhar atrás das câmeras parece ser uma coisa menos pessoal e isso me atrai. Mais que uma simples vaidade, é um exercício artístico.
Folha - Aumentou a pressão desde que você começou a receber um dos cachês mais altos entre as estrelas (cerca de US$ 6 milhões)?
Sandra - Não. O dinheiro não mudou em nada. Sou uma pessoa de sorte, já tenho tudo o que preciso. Não tenho que escolher papéis pelo valor do cachê.
Minha equipe seleciona roteiros, mas nunca fala sobre dinheiro. Não quero saber o orçamento do filme e muito menos quanto eles pagam. Quando gosto da história, faço independente do valor.
Folha - Incomoda ser considerada a nova Julia Roberts?
Sandra - Não. É apenas uma referência. Isso acontece porque as pessoas têm necessidade de classificar as outras. Mas admiro Julia Roberts. Ela conseguiu fazer da mulher um produto mais comercial no cinema. Foi um fenônemo. Vejo a comparação como um elogio.
Folha - E qual foi sua reação ao ser eleita a mulher "mais desejada" pelo público da MTV?
Sandra - (Risos). É claro que eu não levei isso a sério. Foi muito engraçado. Acho que ninguém esperava por isso. Muito menos eu.
Acho que só aconteceu porque boa parte do público da MTV é formada por adolescentes. E eles foram os que mais gostaram de "Velocidade Máxima". É a única explicação.

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