São Paulo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995
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O Ananias e as consultorias

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Deu no jornal "Gazeta Mercantil" de ontem: a partir de consultas a cem instituições financeiras e fundos de investimento, a revista "World Equity" cravou o Brasil como o segundo melhor país do mundo para se investir em 96.
Fantástico. Mas, antes de sair por aí cantarolando o Hino Nacional, convém saber qual foi o resultado da pesquisa relativa a 1995. O México ficou com o terceiro lugar entre os paraísos para o investimento.
A previsão saiu em outubro (de 94). O México quebrou em dezembro, apenas dois meses depois e antes, portanto, de sequer se iniciar o ano em que seria o terceiro melhor lugar do mundo para se pôr dinheiro.
Dá, portanto, para desconfiar que, mesmo nesta era da informação, da globalização, da Internet, do OS-2, do "Windows-95", o escambau, prever o futuro continua sendo tarefa para os deuses. Que, pelo jeito, não costumam empregar-se em consultorias.
Se houver algum leitor louco o suficiente para me perguntar o que fazer diante de tal situação, sugeriria um de dois caminhos.
O primeiro é tratar as previsões econômicas como se tratam as previsões meteorológicas. Até que elas acertam mais do que erram, mas não conheço ninguém que tenha montado uma fábrica de guarda-chuvas só porque a meteorologia previu temporal no fim-de-semana.
Ainda mais sensato seria procurar o Ananias, zagueiro pernambucano de antanho. Explico: sempre que lhe pedem previsões, o vice-presidente Marco Maciel remete o interlocutor para esse tal de Ananias que, segundo ele, só faz previsões sobre o passado, jamais sobre o futuro.
O Ananias certamente não previu a falência do México, mas, pelo menos, tem a humildade de admitir que só "pós-vê" as coisas.
Um terceiro caminho seria cobrar das, digamos, 20 maiores consultorias brasileiras que publicassem, agora, as previsões sobre 95 (inflação, câmbio, balança comercial, crescimento da economia etc) que fizeram no início do ano. Quem se anima?

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