São Paulo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995
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Um bom começo

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Uma postura obrigatória na relação entre o sem-terra e o fazendeiro é o pé atrás. Um não consegue enxergar sinceridade nos olhos do outro.
Parece evidente a essa altura que o problema agrário não será resolvido sem que os calcanhares se disponham a deslizar um milímetro para a frente. A ausência de diálogo é um crime de lesa-inteligência.
Em Brasília, trabalhadores e proprietários rurais conseguiram trocar algumas palavras sem atear desconfianças a cada sílaba. Aposentaram-se, por um bom par de horas, os relâmpagos e trovões.
A conversa ocorreu anteontem. Foi mediada pelo governador petista Cristovam Buarque. A despeito do ceticismo generalizado, chegou-se a um acordo.
Está no papel: os fazendeiros se dispõem a ceder parte de suas terras em troca do abatimento de dívidas junto a bancos oficiais, entre os quais o Banco de Brasília e o Banco do Brasil.
O terreno cedido seria repassado a trabalhadores sem-terra pelo próprio governo do Distrito Federal, em entendimento com o Incra. O acerto é preliminar e depende de uma série de providências. Mas demonstra a disposição das partes de arrancar o pé da retaguarda.
É um belo começo. Um bom contraponto em relação à confusão que se verifica no Pontal do Parapanema, em São Paulo. O sucesso do acordo depende agora da capacidade de articulação do governador Buarque, a quem cabe dar os próximos passos.
Buarque ficou de entender-se com os bancos e com o Incra. É preciso convencer os primeiros a aceitarem títulos do segundo em pagamento das dívidas dos fazendeiros. Resolvida a pendência, Brasília poderá dar um fantástico exemplo ao país.
Em tempo: escrevi semana passada contra os privilégios da aposentadoria dos militares brasileiros. O assunto é de responsabilidade do Emfa (Estado Maior das Forças Armadas). O órgão me informa o seguinte: deseja aprovar, no contexto da reforma da Previdência, propostas que preservem as especificidades da carreira militar, mas elimine os exageros. Entre eles a pensão vitalícia para filhas solteiras de militares. É outro bom começo.

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