São Paulo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995
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O que fazer?

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Em geral, quando se faz essa pergunta, é que a coisa está mesmo preta. Lênin a fez, em forma de título de livro; durante muitos anos parecia que a pergunta era um tipo de resposta, mas o tempo provou que ninguém, nem mesmo Lênin, sabia o que fazer.
Os recentes sequestros do Rio estão mobilizando a sociedade, principalmente depois do vexame dado pelas autoridades. Mas ninguém sabe exatamente o que fazer além das manifestações coletivas e individuais, dos editoriais na imprensa e das preces e promessas de pessoas pias e mais comprometidas com o problema.
É pouco. Há a suspeita generalizada que os últimos acontecimentos confirmaram: o aparelho policial está de tal forma infiltrado pelo crime, tanto na questão da droga como na indústria dos sequestros, que a credibilidade do governo no combate à violência está formalmente extinta.
Apelar para o Exército foi uma experiência frustrada e frustrante, em parte porque a medida foi adotada apenas como marketing eleitoral. A alternativa que restou seria a própria sociedade se armar contra o crime, criando estruturas próprias e desvinculadas do poder oficial. É uma jogada temerária, mas parece ser a que dá resultado imediato.
Faz tempo, um diretor da Rede Globo teve a casa assaltada, os ladrões cometeram violências contra os moradores, houve traumas. A polícia ficou afastada do caso, um banqueiro do bicho foi acionado e em pouquíssimo tempo conseguiu, com sua estrutura marginal, chegar aos criminosos e justiçá-los.
A situação está tão dramática que a confusão do Estado tornou-se uma tragédia à parte. Alguma coisa terá de ser feita. Criar uma polícia paralela? Na realidade, grupos mais organizados e abonados já mantêm um tipo de policiamento exclusivo e particular. Tal como no caso da saúde, vamos terminar com planos individuais de segurança. Pode ser o germe de uma nova cruz dourada (golden cross) ou de uma cruz gamada.

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