São Paulo, quinta-feira, 2 de novembro de 1995
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Morte lembra o horror do fim

CONTARDO CALLIGARIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

É habitual considerar que nossa modernidade prefere esquecer a morte. Os cadáveres, por amados que sejam, atrapalham. Funerárias abertas 24 horas esperam para entrar em ação. Já se foram os dois dias de cortesia durante os quais se deixava aos mortos o tempo de se despedir. Os velórios não são mais em casa, na própria cama dos defuntos. Prefere-se a capela ou a própria funerária, onde o morto já se afasta de nós.
Então, logo fora de casa os defuntos, e longe da vida pública suas sepulturas, em espaços confinados, nos cemitérios! Dizem que é uma questão de higiene. E é verdade que os higienistas do século 14 contribuíram largamente a justificar o progressivo afastamento e confinamento da morte e dos mortos.
Justificaram e racionalizaram uma necessidade que era sobretudo psíquica, não higiênica. Nossa modernidade é individualista. O que significa, entre outras coisas, que cada um de nós é depositário da única vida que lhe parece contar, a sua própria.
Portanto, a morte nos faz horror por ser nosso fim e com isso o fim de tudo o que importa.

Continua na pág. 6-4

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