São Paulo, sábado, 4 de novembro de 1995
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Diretor do Incra vende área de assentados

HELCIO ZOLINI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O superintendente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em Minas Gerais, Geraldo Resende, vendeu no final do ano passado, a amigos e aliados políticos, três terrenos em São Gotardo (região oeste do Estado) por preços quase 20 vezes inferiores aos de mercado.
Resende teve sua demissão anunciada na semana passada pelo presidente do Incra, Francisco Graziano, depois a Agência Folha ter revelado que ele maquiou dados sobre o assentamento de colonos no Estado.
As terras vendidas a três amigos de Resende foram desapropriadas na década de 70 pelo Incra e se destinavam ao assentamento de famílias de sem-terra na região do Alto Paranaíba. Elas integravam o Projeto de Assentamento Dirigido Alto Paranaíba (Padap).
Técnicos do órgão ouvidos pela Agência Folha calcularam em 300 o número de sem-terra que poderiam ser assentados nos três lotes.
O maior deles, de 84,3 hectares, Resende vendeu para o empresário Antônio Pontes Fonseca -apontado como uma das pessoas mais ricas da região de Sete Lagoas e um dos financiadores da campanha eleitoral do deputado e ex-ministro (Fazenda) Eliseu Resende (PFL), irmão do superintendente do Incra-MG.
Documento obtido pela Agência Folha mostra que esse terreno foi vendido por R$ 13.636,00, ou R$ 161,75 o hectare.
A Agência Folha apurou junto a corretores que atualmente naquela região um hectare (10 mil m2) vale entre R$ 2.000 e R$ 3.000.
Ao fixar o preço de venda, o superintendente do Incra, além de não levar em conta o valor de mercado, também desconsiderou as benfeitorias promovidas pelo órgão na propriedade.
Entre elas, uma cerca que envolve todo o lote e que foi adquirida por meio de licitação.
Além do empresário Antonio Pontes Fonseca, Geraldo Resende beneficiou também dois aliados políticos -Paulo Carlos Vieira de Assis e Makoto Edison Sekita.
Assis recebeu em dezembro do ano passado um imóvel rural com 48,5 hectares, com valor fixado pelo Incra-MG em R$ 8.019,00 (ou R$ 165,17/hectare). A compra será feita a prazo, em três prestações, com a primeira vencendo no próximo dia 23 de dezembro.
Sekita teve direito a adquirir, em novembro de 94, 64,7 hectares por R$ 10.465 (R$ 161,74/hectare). Ele pagará a primeira das três parcelas no valor de R$ 3.600,00, no próximo dia 30.
Também o empresário Fonseca conseguiu comprar os seus 84,3 hectares de maneira parcelada. A primeira prestação, de R$ 4.813, deverá ser quitada na semana que vem, no próximo dia 11.
Ao decidir pelo negócio, Resende driblou ainda a Constituição (art. 184 e 185) e a lei 8.692, que impedem a venda ou a transferência do imóvel obtido por reforma agrária pelo prazo de dez anos.
Nos títulos dados aos amigos, Resende teve o cuidado de abrir mão das cláusulas reguladoras do processo de concessão, que prevêem que a transferência só poderá ocorrer após o prazo de dez anos.
A Agência Folha apurou ainda que, na mesma região onde Resende vendeu as terras (consideradas boa qualidade e localizadas próximas ao asfalto e ao rio Paranaíba), o Incra tem procurado áreas para assentar famílias de colonos.

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