São Paulo, sábado, 4 de novembro de 1995
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Raimundos 'muda para ser o mesmo'

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Disco: Lavô Tá Novo
Banda: Raimundos
Gravadora: WEA
Quanto: R$ 18 (o CD, em média)

Depois de vender 180 mil cópias de seu disco de estréia, e por um selo independente (Banguela), o grupo de rock Raimundos retorna com "Lavô Tá Novo", agora pela WEA -uma grande gravadora multinacional.
A fórmula é basicamente a mesma -som pesado e muito palavrão nas letras. Ou, como preferem os quatro integrantes do grupo, "mudamos mas continuamos os mesmos".
O vocalista Rodolfo, 23, acha que o disco está mais pesado e mais comercial.
A simples menção da palavra "comercial" causa arrepios e controvérsia nos outros Raimundos.
Alguns minutos de discussão entre os integrantes da banda sobre o que mudou de um disco para outro não chega a consenso.
"No terceiro acorde já vê que é Raimundos. A gente não pensou para fazer esse disco", afirma Fred, 23, baterista da banda.
"Lavô Tá Novo" foi gravado entre julho e setembro, com a mãozinha do produtor inglês Mark Dearnley -que já trabalhou com Black Sabbath e AC/DC- para dar uma polida no som do grupo.
Os Raimundos não queriam mudar uma receita de sucesso. Um sucesso que não mudou muito a vida dos quatro integrantes da banda -Fred, Rodolfo, Digão, 24 (guitarra) e Canisso, 29 (baixo).
Ninguém faz extravagâncias com o dinheiro recebido pelas vendas do primeiro disco.
"Comprei dois triângulos, e toco os dois ao mesmo tempo", exulta Rodolfo.
Exagero do vocalista. Dá para gastar mais. Digão e Fred compraram um carro cada um.
Canisso continua andando no mesmo fusca metálico 1985, movido a álcool, de antes da fama. O que lhe vale o apelido de "surfista prateado" -herói de história em quadrinhos.
Mas Canisso vê vantagens no velho fusca. "Como o carro é de Brasília, as multas nunca chegam", ri.
Enquanto isso, ele junta dinheiro no cofrinho para comprar uma casa e abrigar mulher e filhos.
O sucesso só deu mais tranquilidade à banda. Todos puderam se dedicar à música. O que provoca um certo alívio.
"Se não tivesse dado certo eu ia ter que trabalhar", diz Rodolfo.
Mamonas Assassinas
Fora a menção da palavra trabalho, pouca coisa chateia os Raimundos. Uma delas é a comparação com os Mamonas Assassinas -banda de Guarulhos que aposta no besteirol pornográfico.
"Não gosto quando comparam a gente. Não tem nada a ver. A gente quer fazer um som legal, tocar uma porrada, fazer uma zoeira, não fazer o público rir", diferencia Rodolfo.
O vocalista diz, contudo, que os Mamonas têm méritos, dentro da lógica "se vendeu é bom".
Para fugir da comparação, eles tentam encontrar outro boi de piranha.
"Eles parecem mais com o Falcão (compositor brega-cult). Só que o Falcão é mais inteligente", afirma Digão.
O único integrante da banda que gosta dos Mamonas é Canisso.
"Também, ele gosta da música de qualquer um de quem fica amigo", ironiza Rodolfo.
Hollywood Rock
Agora a banda se preocupa com a participação no Hollywood Rock 96, que acontece nos dias 19, 20 e 21 de janeiro, no estádio do Pacaembu (São Paulo) e dias 26, 27 e 28, na praça da Apoteose (Rio).
"Vai ser a melhor coisa depois de ter tocado com Ramones e Sepultura", afirma Fred.
Apesar disso, a banda critica o elenco escalado para o festival.
Principalmente a ausência do Metallica e do White Zombie -que, como o Metallica, teve a vinda ao Brasil especulada por parte da imprensa.
Nem Robert Plant e Jimmy Page escapam às farpas. "Estão velhos", na opinião do grupo.

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