São Paulo, sábado, 4 de novembro de 1995
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Filme elabora mal-estar cultural

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Mas Ismail, o irmão mais velho que procura o jovem Mouloud -desaparecido em Marselha, tragado pela atração pelas drogas-, não é tão distante assim do John Wayne de "Rastros de Ódio. Ele é menos amargo, mas a busca, a identidade pelo sangue estão lá.
Dridi também nega a Nouvelle Vague. Mas há aspectos que os aproxima: o sólido credo realista, o desejo de falar da vida e não de vagas abstrações, a vontade de intervir no cinema.
Dito isso, os referenciais que Dridi aponta são justos. Em particular Elia Kazan. Ambos são produtos de uma mistura de culturas e apontam o mal-estar que essa mistura não contornou.
Em Kazan, é o sonho americano que se desfaz. Em Dridi, o pesadelo étnico contemporâneo. "Bye Bye não é um filme irretocável. Tem quê iraniano -essa ambição de mostrar uma cultura à outra, de provocar, pelo conhecimento do outro, que cesse a intolerância.
Nesse tipo de filme, qualquer deslize aparece. E "Bye Bye tem deslizes: às vezes, as motivações dos personagens são um tanto mecânicas, ou alguma sequência soa falso.
Isso é pouco para invalidar as imensas virtudes do filme. Dridi tem coragem de ser moderno -por exemplo, permite-se digressões, deixa seus personagens "vagabundearem na tela, sem afrouxar a estrutura.
Essa modernidade, na construção, nos tempos, duplica-se de um vigor quase selvagem da direção, de uma convicção visceral -à la Kazan mesmo.
É uma pena que não esteja programado para este fim-de-semana final da Mostra, nem tenha sido comprado por nenhum distribuidor brasileiro.
(IA)

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