São Paulo, sábado, 4 de novembro de 1995
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Rossi tinha razão

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Bem que eu gostaria de ser o Rossi do título, mas ainda não cheguei a esse nível de cabotinismo. Refiro-me ao Francisco Rossi, o candidato do PDT ao governo paulista, derrotado por Mario Covas, e que vivia dizendo que era preciso fechar o Estado para balanço.
Acabou virando folclore, mas, no fundo, Rossi tem razão. Mais: em condições ideais de temperatura e pressão, o país todo, e não só São Paulo, precisaria fechar para balanço.
Como nunca ocorrem, em política, condições ideais de temperatura e pressão, o governo parece sempre cachorro correndo atrás do próprio rabo.
O ideal (e o impossível, obviamente) seria parar o país por 'xis' meses enquanto se estabeleceria qual o modelo educacional adequado, qual o sistema de saúde mais ou menos ideal, qual o mecanismo de seguridade social que se gostaria de oferecer aos brasileiros, e assim por diante.
Depois, se analisaria quanto custa montar esse país dos sonhos. E, por fim, de onde tirar dinheiro para financiar a operação.
Em vez disso, o que se vê é o governo atuando sempre no varejo. Precisa equilibrar as contas públicas, mas é obrigado a praticar taxas de juros indecentes, que arruinam as finanças dos Estados, o que, por sua vez, atrapalha (ou, no limite, impede) a arrumação das contas.
Se reduzir demais os juros, o governo corre o risco de desarrumar as contas externas porque juros mais baixos atraem menor quantidade do chamado "capital andorinha", o que faz o verão, graças à remuneração elevadíssima, e vai embora.
Se desvalorizar o real, para melhorar as contas externas pelo lado do saldo comercial, atiça a inflação. Porque os importados ficam mais caros (em reais) e porque o dólar continua sendo um indexador poderoso.
Dessa ciranda toda resulta que a era tucana está para completar seu primeiro ano e sequer arranhou as reformas de fato indispensáveis, aquelas capazes de dar a uma sólida maioria de brasileiros condições de plena cidadania.

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