São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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'Botei as roupas em sacos plásticos e fugi'

LÚCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

A cantora Fernanda Porto, 29, fugiu de casa aos 20 anos com um sobrenome e voltou com outro. Trocou Clemente por Porto.
Ela teve que mudar de nome para se apresentar publicamente. Seus pais não aceitavam que ela, na época uma estudante de música, virasse uma cantora popular.
A primeira vez que seu pai, um comerciante português, ouviu o sobrenome artístico da filha ficou furioso. Na última vez que perguntaram a ele sobre o sobrenome alienígena, disse: "é meu nome".
Fernanda se sentia tolhida. Não podia sair à noite e muito menos fazer shows. "Meus pais diziam que tinha que escolher entre a família e a música. E eu escolhi. Preferi fugir."
Ela tentou fugir duas vezes. Só conseguiu na segunda. Na primeira tentativa, deixou cair a carteira quando pulava o muro de sua casa, no Pacaembu (zona oeste de São Paulo).
Para piorar, se escondeu atrás do cemitério do Araçá (a poucos metros de sua casa) e foi encontrada por policiais, que a levaram até a casa de seus pais.
Na segunda tentativa, ela armou um plano antes de fugir. Conseguiu um lugar para ficar -uma pensão barata onde moravam alguns colegas atores e cantores- e a cumplicidade dos empregados da casa, que facilitaram a fuga.
Levou as roupas em sacos plásticos -"para não levar as malas dos pais"- e fugiu no carro dos pais. Na madrugada seguinte, voltou em casa para devolver o carro. Queria sair de casa sem nada para provar a seus pais que conseguiria tudo sozinha. "Queria provar minha identidade."
Os pais de Fernanda ficaram desesperados. Eles ligaram para todos os amigos dela até descobrirem onde estava. "Foram na pensão várias vezes, insistindo para que eu voltasse para casa. Voltei mais tarde, mas não fiquei nem dois meses. Não deu certo."
Continuou a morar sozinha, mas fez as pazes com os pais. Hoje, seus pais acompanham sua carreira e vão a todos os shows.
"Tive a ajuda dos amigos dos meus pais, que sempre insistiam para que eles fossem me ver cantando. Com o tempo, eles foram percebendo que não era nada de mau o que eu fazia."
Fernanda conta que, quando voltou a conversar com seu pai, o seu maior interesse era saber como ela havia feito para se sustentar.
"Ele ficou curioso sobre o meu dia-a-dia de fugitiva. Queria saber como eu fazia para pagar o aluguel, o que comia. Eles não acreditavam que uma menina como eu, que tinha tudo, iria conseguir se virar sozinha, ainda mais cantando", afirma Fernanda, que prepara seu 1º disco.
(LM)

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