São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Bancos entram na era dos casamentos por interesse

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Algoz dos casamentos, a popular "crise dos sete anos" chegou ao sistema financeiro. Felizmente, no sentido contrário. Em vez de divórcio, é chegada a hora da união de bancos brasileiros.
Sete anos após a reforma bancária de 1988, que acabou com as cartas-patentes e deu origem aos bancos múltiplos, o mercado financeiro prepara-se para uma nova fase de reestruturação, marcada por uma onda de fusões e aquisições.
Como pano de fundo desse processo, destacam-se três fatores principais: a queda da inflação com o Plano Real, a globalização da economia e a regulamentação do artigo 192 da Constituição, que trata do sistema financeiro.
"A reestruturação do sistema bancário é inevitável. O mercado mudou demais e os bancos não podem ficar parados", diz Joe Yoshino, doutor em economia pela Universidade de Chicago e consultor do Banco Central e do Banco Mundial.
Segundo Yoshino, reaprender a ganhar dinheiro sob inflação baixa e crescente concorrência internacional é o principal desafio dos bancos brasileiros neste final de século.
Antes do Real, os bancos ganhavam fortunas aplicando dinheiro dos correntistas no overnight, sem repassar integralmente os rendimentos à clientela.
Com a queda da inflação, o cenário mudou. Os bancos perderam receitas da ordem de US$ 10 bilhões com o fim do "floating" (ganho inflacionário) e sua participação no PIB (a soma dos produtos e serviços no país) caiu de 13% para 11%, estima o economista Rubens Penha Cysne.
Como há 246 bancos no país -138 a mais que em 1987- e a farra da ciranda financeira está com os dias contados, o processo de fusões e aquisições pode começar ainda este ano, sustentam os especialistas mais otimistas.
"O mercado brasileiro está superdimensionado. Teremos mudanças drásticas nos próximos dois anos. Dos dez maiores bancos, restarão apenas cinco, só que maiores ainda", profetiza o consultor Alberto Borges Matias.
Ele lembra que a rede de agências e postos bancários cresceu 108% nos últimos 15 anos, chegando a 32.312 pontos de atendimento em junho passado.
Enquanto isso, a evolução tecnológica favoreceu o corte de "gorduras" e eliminou 164.550 empregos no setor a partir de 1988.
Somente no primeiro semestre deste ano desapareceram cerca de 26 mil empregos nos bancos, segundo o Ministério do Trabalho.
O processo de ajuste só não foi maior porque o governo tem praticado juros elevadíssimos na gestão da dívida interna, favorecendo as instituições financeiras.
Quando os juros baixarem, a partir do ano que vem, os custos elevados das pesadas estruturas dos bancos irão forçar um aprofundamento da reestruturação do setor.
É que a única maneira de se fazer face a essa nova realidade, aumentando receitas sem elevar os custos operacionais, é partir para a união de bancos, concluem os especialistas.
O processo de desintermediação financeira (operações fora do sistema bancário) também deve ser levado em conta nesse cenário, acrescenta o economista Paulo Rabello de Castro, presidente da SR Rating.
As empresas de factoring (fomento comercial), que não são financeiras mas fazem uma espécie de desconto de duplicatas para as empresas, detêm hoje ativos da ordem de R$ 10 bilhões.

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