São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Sonho dos banqueiros pequenos vira pesadelo

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O sonho de virar banqueiro seduziu centenas de corretores e distribuidores de valores em 1988, quando a reforma bancária permitiu a criação dos bancos múltiplos.
Com pouco capital, centenas de pequenas corretoras, distribuidoras e financeiras transformaram-se em bancos múltiplos, tipo de instituição financeira que reúne, sob um único caixa, diversas carteiras.
A principal vantagem para os novos bancos nanicos era participar do mercado interbancário de empréstimos por um dia (o famoso CDI) e, assim, tirar proveito da ciranda financeira.
Os novos banqueiros foram felizes somente até o final do ano passado. Com a crise de liquidez do sistema a partir de setembro de 1994, os pequeninos foram alijados do mercado de CDI, o que resultou na quebra de 12 instituições.
O sonho virou pesadelo, comenta um vice-presidente de um grande banco privado. Sem os recursos fáceis do CDI, os "tamboretes" ficaram em maus lençóis: sem "funding" (aplicações) e sujeitos à pesada fiscalização burocrática do BC, explica.
Uma imagem curiosa é usada pelos executivos do mercado para definir o périplo da nova safra de banqueiros: em 1988 surgiu um grande tacho, com centenas de pequenas rãs mergulhando nas águas dos bancos múltiplos.
No início, todas as rãs nadavam contentes, mas a água começou a esquentar aos poucos nos últimos anos. A queda da inflação e a crise de liquidez, além da crescente concorrência no mercado financeiro, aceleraram o cozimento após o Real.
Poucas rãs conseguiram pular fora do tacho e, agora, precisam unir suas forças para sobreviver, ilustram os executivos do sistema bancário.
No processo de reestruturação que se avizinha no mercado financeiro, os 120 pequenos bancos nacionais terão de buscar fusões locais e associações com parceiros estrangeiros.
"Ou o Banco Central cria incentivos às fusões, ou terá de liquidar muitos bancos nos próximos anos", alerta o especialista.
Sensíveis ao mercado, os comandantes federais do sistema financeiro já estudam medidas de incentivo às uniões e incorporações de bancos.
Na semana passada, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, admitiu a existência de estudos nesse sentido.

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