São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Ganho com inflação cai de 26% para 1,3%

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Até o primeiro semestre do ano passado, boa parte da lucratividade dos bancos vinha do ganho propiciado pela inflação.
Segundo dados da EF&C (Engenheiros Financeiros & Consultores), 26% das receitas totais dos 40 maiores bancos em 1993 veio do ganho inflacionário (também chamado de "floating"). No primeiro semestre deste ano, esse ganho caiu para 1,3%.
O emagrecimento das taxas mensais de inflação teve, além disso, um outro efeito: reduziu a volatilidade (oscilação das cotações). A oscilação também propiciava ganhos (e perdas).
"O Brasil é hoje menos volátil, o que reduz a possibilidade de ganho nas operações de tesouraria dos bancos", diz Carlos Daniel Coradi, presidente da EF&C.
Para retomar lucratividade, os bancos correram para o crédito -embora, pondera José Eduardo Martins, do Banco Patrimônio, nem todas as instituições tivessem estrutura ou conhecimento específico da área.
Segundo a EF&C, em 93 as operações de crédito rendiam aos bancos o equivalente a 29,7% das receitas totais. No primeiro semestre de 95, essas operações já passaram a responder por 62,5% do total das receitas.
No exato momento em que se voltaram para o crédito, a globalização estreitou o mercado.
Cada vez mais, as grandes empresas que atuam no Brasil, acredita Martins, vão ter acesso ao mercado internacional (que cobra juros mais decentes). Assim, a demanda de crédito desse setor vai acabar sendo atendida por bancos internacionais.
"Os bancos nacionais vão trabalhar para baixo (atendendo empresas médias e pequenas e pessoas físicas). Nesse segmento, o risco de crédito (de não receber o que emprestou) é maior", diz.
Se o risco é maior, os custos também são -especialmente os de informatização.
"Nesse cenário, ganhar escala é fundamental", diz Martins. A forma mais rápida é a fusão ou a incorporação.
Indagado por que o governo estaria preparando regras exclusivamente para o setor financeiro (apesar de o processo de reorganização atingir outros setores), Martins lembrou que "o setor financeiro é muito sensível e tem reflexos sobre o conjunto da economia".
Com a regra, segundo Martins, o governo pretende tornar "o processo mais suave, mais ordenado, sem nenhuma conturbação".
O governo deve, acredita, oferecer vantagens fiscais, possibilitando que os custos desse processo, "que podem ser muito altos (custa US$ 200 mil fechar uma única agência)", sejam "deduzidos do Imposto de Renda".
Essas vantagens fiscais podem apressar o processo de reorganização -já que facilitam o processo de absorção de custos-, tido como por Martins e Coradi como inevitável.
(JCO)

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