São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Brasil-Japão

ANTONIO KANDIR

Há exatos 100 anos celebrava-se o Tratado de Amizade Brasil-Japão, início de laços que perduram até hoje. Sendo motivo de comemoração, a data deve servir também para que se reflita sobre a dimensão econômica das relações entre os dois países.
Entre 1950 e 1980, o Brasil recebeu investimentos diretos japoneses em montante só superado pelos EUA e Indonésia. Os investimentos dirigiram-se principalmente para o setor industrial.
A partir dos anos 80, mudou drasticamente a direção do investimento direto do Japão no exterior, em claro detrimento da América Latina e do Brasil.
Somaram-se nesse deslocamento a crise estrutural em que mergulharam as economias da região e a mudança na estrutura industrial japonesa, com crescente importância dos setores densos em tecnologia (automobilístico e eletroeletrônicos, tipicamente), que buscaram instalar-se em regiões de renda mais alta e mão-de-obra mais qualificada (a participação da América do Norte no investimento direto japonês no exterior passou de 25%, em 1971, para 43,8%, em 1990, ao passo que a participação da América Latina declinou de 7,4% para 2%, em igual período).
Nesse quadro negativo, o dado a favor do Brasil é que o investimento direto japonês preservou uma base industrial importante, a despeito da crise.
Enquanto, no Brasil, o investimento no setor industrial manteve-se na casa dos 60% do investimento direto total, na Argentina ele declinou de 40% para 25%.
O fato de que se tenha preservado o estoque de investimentos realizados antes da década de 80 nos coloca em melhor situação para disputar a atração de novos investimentos japoneses. Acresce que a combinação da estabilidade com reformas estruturais, alcançada com o Real, está criando novos e poderosos estímulos à retomada do investimento direto japonês.
A estabilidade, além de oferecer a necessária previsibilidade ao investimento, amplia o poder de consumo no mercado interno, cuja escala potencial não é nada desprezível (tome-se o caso da indústria automobilística, por exemplo).
Por sua vez, as reformas estruturais descongelam e criam novos mercados, não só no complexo mineral-siderúrgico, em que a presença do capital japonês já é marcante, como também em setores novos, como telecomunicações.
Resta o desafio de consolidar esses processos de mudança e combiná-los com condições que permitam ao Brasil apresentar-se como base importante de exportação. Mas é inegável que os laços econômicos Brasil-Japão tendem a se estreitar novamente, reforçando laços culturais de admiração e aprendizagem recíprocas.

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