São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Tendência é de piora nas contas públicas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo se muniu de estatísticas para sustentar que a dívida federal não teve crescimento explosivo do lançamento do Plano Real para cá.
Trata-se de negar críticas inexistentes: a alta preocupante da dívida aconteceu apenas neste segundo semestre.
Em junho último, a dívida interna em títulos era de R$ 69,5 bilhões. Em setembro chegou a R$ 98,4 bilhões e hoje já ultrapassou o patamar de R$ 100 bilhões.
Descontado esse período, a dívida teve crescimento de apenas 12% nos primeiros 12 meses do Plano Real -abaixo da inflação. O problema para o governo é que esse período de estabilidade da dívida ocorreu por motivos que não se repetirão mais.
Nos primeiros seis meses do real, o volume de dinheiro na economia saltou de R$ 3,5 bilhões para algo como R$ 18 bilhões, porque as pessoas passaram a andar com mais dinheiro no bolso. Esse dinheiro saiu das aplicações em títulos do governo.
No primeiro semestre de 95, os efeitos da crise econômica do México fizeram os investidores estrangeiros tirarem dólares do país. As reservas em dólar perderam cerca de US$ 5 bilhões -mais dinheiro que estava ancorado em títulos federais.
Encerrados os dois fenômenos, a dívida não parou mais de crescer. "Acendeu o sinal vermelho para todos nós na Esplanada dos Ministérios", segundo Fábio Giambiagi, assessor do Planejamento.
Giambiagi avalia que há uma combinação preocupante para os próximos anos: aumento da dívida pública com os déficit dos governos federal, estaduais e municipais.
"Isso vai exigir maior controle daqui para a frente", afirma o assessor.
Fezes de cavalo
Francisco Lopes, do Banco Central, concorda com a tendência deficitária das contas públicas. No entanto, recusa projeções quanto ao comportamento futuro da dívida.
"Um cara no final do século passado fez a previsão de que, no nosso século, Londres seria inundada por fezes de cavalo, dado o crescimento do trânsito de charretes", conta Lopes, rindo. "Ele não podia prever a criação do automóvel."

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