São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Processo é irreversível, avaliam empresários

SILVANA QUAGLIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A terceirização da mão-de-obra pode ser vantajosa para trabalhadores com nível de formação mais elevado. É geralmente ruim para trabalhadores pouco qualificados, que são forçados a deixar o emprego formal. Em geral, é um ótimo négocio para as empresas.
Não existem estatísticas que dimensionem a tendência. Mas, para empresários e especialistas ouvidos pela Folha, o processo não só é uma realidade no Brasil, como é inexorável e irreversível.
"A terceirização é tão pior quanto menos qualificado for o trabalhador", afirma o professor José Márcio Camargo, economista da PUC-Rio, que, por ser muito próximo ao ministro do Trabalho, Paulo Paiva, tem ajudado o governo nessa área.
Para o presidente do Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria de São Paulo), Joseph Couri, há distorções na terceirização da mão-de-obra. Uma delas é tentar provocar a queda do salário médio -portanto, do custo do produto.
"Mas essa tendência, que no início era muito forte, está se revertendo", afirma Couri. Segundo ele, o importante é que as grandes empresas perceberam que ganham em competitividade e eficiência se se concentrarem em suas atividades específicas.
Uma pesquisa do Dieese feita em 1993 mostrava que a "terceirização está associada à estratégia de focalização". A idéia, segundo o estudo, é que "não é viável ter um carro que corra a 300 km/h, carregue 11 pessoas e transite bem numa serra enlameada".
O tipo de mão-de-obra terceirizada varia conforme o setor. Montadoras de automóveis, refrigeradores e eletrodomésticos em geral, por exemplo, já transferem uma parte da produção a trabalhadores terceirizados.
Normalmente, são trabalhadores egressos das fábricas, incentivados a se tornar fornecedores a partir de suas próprias empresas. A fábrica deixa de arcar com os custos trabalhistas do funcionário, mas conta com a mão-de-obra treinada.
Os trabalhadores menos qualificados perdem com o processo. Normalmente, não têm condições de montar seu próprio negócio ou de se tornar fornecedores da fábrica. Se perde o emprego, é empurrado para a informalidade (sem vínculos empregatícios), ou para o setor de serviços, onde os salários são mais baixos e as condições de trabalho piores que na indústria.
Carlos Eduardo Uchôa Fagundes, diretor do Departamento da Micro, Pequena e Média Indústria da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), ressalta que a terceirização é "uma imposição do momento, um dos caminhos para vencer a concorrência".
Segundo Fagundes, as empresas buscam reduzir custos, já que acabam comprando o mesmo produto por menos. O custo financeiro do processo também é menor.

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