São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Dívida interna chega a R$ 90,8 bilhões

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Em junho de 1995, a dívida interna do governo federal era menor do que em julho de 1994, quando o real estreou. Já a dívida externa permanecia mais ou menos constante.
No terceiro trimestre, sobe a dívida interna, cai a externa (ver gráfico). Como isso aconteceu?
A dívida interna do governo federal é formada pelos títulos que estão no mercado financeiro e pelos compulsórios, isto é, o dinheiro que os bancos são obrigados a deixar depositado no BC.
É a chamada dívida interna relevante, sobre a qual o governo federal paga juros. Essa dívida saltou de R$ 65,3 bilhões no final de junho de 95 para R$ 90,8 bilhões no final de setembro, um expressivo crescimento de mais de 38%.
Isso aconteceu, inicialmente, porque os juros altos atraíram recursos externos. Isso aumenta a reserva do BC em dólares, mas aumenta também a dívida interna.
O mecanismo é o seguinte: o investidor estrangeiro entrega seus dólares ao BC e recebe os reais.
Assim, quanto mais dólar entra no caixa do BC, engordando as reservas, mais real entra na economia. Como o excesso de moeda provoca desvalorização, o BC vende títulos ao mercado.
Assim, recolhe os reais, mas em compensação aumenta de novo a dívida interna e os juros que paga.
Além disso, a dívida interna cresce por outros fatores, como o dinheiro que o BC coloca em bancos para evitar a quebradeira. Os R$ 3 bilhões que o BC empatou no Econômico entraram aí.
Ainda no terceiro trimestre, o governo teve de emitir títulos para recolher o dinheiro que devolveu aos bancos, ao reduzir os compulsórios para evitar a recessão.
Tudo considerado, dá os pesados R$ 25,5 bilhões de crescimento da dívida interna federal.
A compensação é que cai a dívida externa líquida, que é o total da dívida externa menos as reservas.
Em setembro último, essa dívida externa líquida chegou a R$ 27,4 bilhões. Somada à interna, deu R$ 118,2 bilhões.
É muito? Não, responde o diretor de Política Monetária do BC, Francisco Lopes. Pelos padrões internacionais, abaixo de 60% do PIB está bom, diz ele.
Para o governo, ainda há espaço para crescer. Mas com a dívida interna crescendo 38% por trimestre, as contas logo estouram.
Ou seja, pode-se contar que o governo vai reduzir os juros e a entrada de investimentos externos, para evitar tal crescimento da dívida interna.
(CAS)

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