São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Cuba põe em liquidação as suas empresas estatais

FERNANDO RODRIGUES
DO ENVIADO ESPECIAL

Cuba está quase inteira à venda. Uma publicação mensal patrocinada pelo governo cubano e pela Organização das Nações Unidas (ONU) traz anúncios classificados de companhias estatais dispostas a vender até 50% do seu patrimônio.
A última edição de ofertas foi feita em setembro, quando ainda não estava em vigor a lei 77, que permite a presença em Cuba de empresas 100% estrangeiras.
O próximo número da publicação deve trazer a oferta de venda integral de empresas estatais.
"Business Tips on Cuba" (Dicas de Negócios em -ou sobre- Cuba), a publicação, trazia a oferta de 70 empresas estatais no mês passado, em vários setores.
Por causa da crise dos anos 90, várias empresas estão quase ou totalmente paradas. Construídas com tecnologia soviética e na época em que o petróleo era barato para os cubanos, essas fábricas hoje estão à beira da obsolescência.
Mas há muitas opções de negócio aparentemente vantajosos. Por exemplo, na área médica.
O Instituto de Pesquisas para a Indústria Alimentícia se oferece para vender tecnologia ou associar-se a empresa estrangeira interessada no "supernutriente que se utiliza na alimentação dos esportistas cubanos".
Trata-se do Vigoral AS, um complexo vitamínico que é administrado a atletas cubanos.
O Instituto de Pesquisas para a Indústria Alimentícia é um dos mais avançados centros de estudos do planeta nessa área. São os únicos a dominar a tecnologia de produção de iogurte e queijos a partir da soja -sem que os produto final tenha o gosto dessa planta.
Importação
Mas o grande negócio para estrangeiros em Cuba ainda é a importação. Falta quase tudo no país.
Embora os cubanos ganhem pouco -o salário médio é de 188 pesos por mês (isso equivale a US$ 6,26)-, não tiveram no que gastar nos últimos 35 anos. Depositavam quase tudo em contas de poupança. Agora, sacam para consumir ou abrir um negócio.
A Supply in Bond, empresa dos brasileiros Geraldo Ladeira Rosa e Cláudio Al Assal, atua sobre a demanda reprimida dos cubanos: leva tintas para Cuba.
Com esse produto, faturou US$ 600 mil em 93. Em 94, aumentou esse valor para US$ 6 milhões.
Neste ano, a empresa deve vender US$ 12 milhões. É a maior importadora de tintas de Cuba.
A Samos, de outro brasileiro -Hipólito Rocha Gaspar-, importa pneus para Cuba. Espera faturar US$ 8 milhões neste ano.
Supply in Bond e Samos acumulam capital e pretendem passar para o ramo produtivo em breve.
No ano que vem, a Supply in Bond começa a produzir tintas em uma fábrica cubana. Vai vender localmente e exportar o excedente.
A Samos está em negociação para reativar uma fábrica de pneus do governo cubano. Deve começar a produzir também, em 96.
A Souza Cruz já entrou em Cuba pensando em produção. Associou-se neste ano à União de Empresas de Tabaco (estatal cubana) para fabricar cigarros no país.
O investimento total é de US$ 10 milhões. A produção será em uma fábrica já existente, com capacidade para produzir 5,5 bilhões de cigarros por ano.
O brasileiro Sérgio França, 49, é o vice-presidente da Brascuba Cigarillos, a empresa formada com a estatal cubana. Segundo ele, a idéia da joint-venture é produzir cigarros para consumo local e para exportação.
Na Souza Cruz, o único fator de desânimo se refere à primeira tentativa de marketing da empresa em Cuba: a instalação de vários relógios-termômetros espalhados pelas ruas de Havana.
Como todos os dias falta luz em Havana, os relógios quase sempre marcam a hora errada. "Já pedimos para trocá-los de lugar, para áreas onde não falte energia", diz França.

A revista "Business Tips on Cuba" pode ser encomendada, no Brasil, pelos telefones: (011) 259-6466 e 257-4789.

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