São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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'Un minutico', diz o cubano

FERNANDO RODRIGUES
DO ENVIADO ESPECIAL

Telefone para Cuba e faça um teste. Do outro lado da linha, seja qual for a pergunta, a resposta tende a ser: "Un minutico, un minutico".
É o jeito cubano de ser. Todos pensam muito antes de responder. Antes de agir, então, nem se fala.
Não que o cubano não goste de trabalhar ou incorpore qualquer um desses estereótipos negativos do Caribe. Muito pelo contrário.
O cubano típico é uma pessoa muito educada no trato pessoal e sabe falar mais de um idioma -ainda que muitos falem russo, absolutamente inútil no momento.
O que pesa na adaptação à sociedade de mercado são os 36 anos de socialismo. Durante esse período, o cubano aprendeu que a palavra "senhor" era negativa.
Cubano chama cubano de amigo ou companheiro. Era assim que Ernesto Che Guevara, um dos líderes da revolução de 59, recomendava que o "homem novo" tratasse o outro.
Cubano não emprega cubano. Até hoje, é proibido um cidadão da ilha dar emprego a um compatriota. Isso só é permitido ao governo -que repassa os trabalhadores às empresas estrangeiras.
Toda a população estuda pelo menos nove anos. O cubano é um trabalhador preparado.
Mas tudo isso não garante bons garçons para um hotel cinco estrelas. Ou uma secretária eficiente para uma multinacional.
Por exemplo, no melhor hotel de Havana, o Cohiba, é comum os garçons esquecerem de colocar talheres nas mesas. Ou de trazer açúcar ou adoçante ao servir café.
Quando se trata de serviço público, tudo pode piorar. É o caso do serviço diplomático.
Antes de ir para Cuba, a reportagem da Folha solicitou um visto de jornalista ao consulado cubano em São Paulo.
Como o visto não chegava depois de duas semanas, o repórter seguiu com visto de turista. Em Havana, fez a conversão.
No semana passada, quando a reportagem já estava feita e o repórter de volta ao Brasil, o consulado cubano em São Paulo telefonou: o visto estava pronto.
(FR)

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