São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Turismo já é segundo setor da economia

FERNANDO RODRIGUES
DO ENVIADO ESPECIAL

Cuba está voltando a ser o paraíso turístico que era antes da revolução de 59. Essa é a segunda fonte de moeda forte do governo. Perde apenas para o açúcar. O turismo é o setor da economia que mais cresce nesta década.
A pouco mais de 100 km do sul da Flórida, Cuba ainda não pode atrair turistas norte-americanos por causa do embargo imposto pelos Estados Unidos.
Mesmo com a restrição aos cidadãos dos EUA, no ano passado a ilha recebeu 706 mil turistas estrangeiros. Neste ano, serão mais de 750 mil. Esses visitantes do capitalismo devem gastar cerca de US$ 1 bilhão nos hotéis e comércio cubanos.
Apesar do aumento, Cuba ainda está longe de ser o que era. Em 1959, a ilha ficava com 35% do mercado de turismo das ilhas do Caribe. Hoje, a sua fatia de mercado caiu para algo em torno de 5%.
O Caribe recebe cerca de 14 milhões de turistas por ano. Cuba não tem capacidade para atrair mais visitantes. Há 24 mil apartamentos em seus hotéis. A idéia é atingir 50 mil no ano 2000.
Mesmo com o embargo imposto pelo governo norte-americano -que priva o país do principal mercado do mundo-, os cubanos acreditam poder aumentar o número de turistas para 1,4 milhão por ano no final do século.
Até setembro, o governo cubano só aceitava empreendimentos conjuntos com o capital estrangeiro. Agora, uma rede hoteleira pode desenvolver seu próprio projeto e ser dona de 100% de algum hotel.
O investidor estrangeiro interessado topará, de início, com uma idiossincrasia cubana: não poderá comprar o terreno para construir seu hotel. O governo cubano prefere ceder terrenos por períodos determinados de tempo. Atualmente, a cessão de uso varia de 25 a 50 anos. Estuda-se a ampliação desse prazo para 99 anos.
O custo do uso do terreno varia. Em tese, pode ser de 10% a 25% do valor do empreendimento. Como Cuba precisa desesperadamente do dinheiro dos turistas, esse percentual é sempre negociável.
Se conseguir o terreno de graça -ou por um preço muito pequeno-, o investidor estrangeiro sairá com uma vantagem inicial.
Depois de pronto, um hotel em Cuba tem uma taxa de retorno rapidíssima: de quatro a cinco anos. No mercado internacional, a média é de sete anos. Taxa de retorno, no jargão da indústria hoteleira, é quanto tempo demora para se recuperar tudo o que foi investido.
"Outro detalhe importante é que os custos de construção em Cuba são, na média, 15% menores que em outros países do Caribe: nós temos produção própria de cimento", diz Carlos García Hernandez, vice-presidente de Turismo da Cubanacán -a maior corporação de turismo de Cuba.
Outra vantagem de Cuba, na opinião de García, é que o país demorou para acordar para o turismo. "Com isso, pudemos aprender com os bons e maus exemplos de outros países", diz.
Cuba prioriza, por exemplo, construções horizontais. O governo não aprova -exceto em Havana- projetos de edifícios muito altos. Isso é possível por um simples motivo: todos os terrenos em Cuba pertencem ao governo, que não especula sobre preços.
Ao fazer um projeto de um grande hotel de veraneio, o empresário não precisa espremê-lo num espaço pequeno. Basta solicitar, e o Ministério do Turismo oferece uma praia com área suficiente para instalar a edificação de forma horizontal. Espaço não é problema em Cuba: o país é formado por um arquipélago de quase 1.500 ilhas.
Além do embargo, o empresário de turismo tem, pelo menos, dois outros grandes obstáculos para investir em Cuba. Primeiro, a falta de mão-de-obra especializada para trabalhar em hotéis. E, segundo, a falta de aeroportos modernos no país.

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Sobre Cuba às págs. 1-26 e 1-27

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