São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Nova burguesia pode apressar mudanças
FERNANDO RODRIGUES
Para azar do investidor, as duas perguntas acima não têm resposta. No caso do embargo dos EUA, tudo é uma questão de tempo. Qualquer que seja o investimento, deve ser feito com duas opções. Uma para funcionar com o embargo. E outra para o dia em que essa restrição acabar. Sobre a permanência de Fidel Castro, 68, no poder, é possível fazer algumas inferências com base nas ações recentes do governo. O governo cubano age sempre por reação. Por exemplo, quando percebeu que a população usava muitos dólares no dia-a-dia, legalizou a posse dessa moeda. Nesse sentido, a formação de uma nova elite nacional, ainda que de forma incipiente, pode apressar a abertura e a democratização do país. Esses novos burgueses devem aspirar a mais poder econômico, o que é natural em qualquer sociedade capitalista. Isso vai criar, pela primeira vez em 36 anos, uma casta privilegiada, que afrontará a maioria da população, obrigada ainda a comer aquilo que o Estado conseguir colocar na cesta básica. Se essa diferença de padrão de vida vai provocar animosidade a ponto de gerar protestos de rua, é cedo para saber. O que é certo -já é visível nas ruas- é o descontentamento do cubano médio, funcionário público, em relação aos trabalhadores por conta própria. Enquanto isso, Fidel Castro abre lentamente o país. Isso lhe permite duas coisas. Convencer, aos poucos, os chamados "líderes históricos" sobre a necessidade de abertura. E, também, minimizar os efeitos que o capitalismo tardio terá sobre o "welfare state" (bem-estar social) cubano. O líder cubano conta com a ajuda de uma nova geração de dirigentes que vê com bons olhos a abertura. Entre as lideranças emergentes, se destacam os seguintes: Carlos Lage (vice-presidente); Roberto Robaina (ministro das Relações Exteriores); José Luis Rodriguez (ministro da Economia e Planejamento) e Francisco Soberon (presidente do Banco Central). Em breve, Fidel Castro deve promover uma reforma ministerial. Entre outras trocas, deve ser processada a ida de Roberto Robaina (Relações Exteriores) para o Ministério do Turismo. Atualmente, a pasta de Turismo é ocupada por Osmany Cienfuegos. Sexagenário, Cienfuegos é irmão de Camilo Cienfuegos, que já morreu e foi um dos mais populares líderes revolucionários. Por ser uma área vital para o país, Fidel Castro estuda a ida de Robaina para o Turismo. A idéia é aplicar uma política mais agressiva para conquistar um mercado que foi quase todo perdido há 36 anos. (FR) Texto Anterior: Turismo já é segundo setor da economia Próximo Texto: Dissidentes usam Internet Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |