São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995 |
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"Quadrilheiros"
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO - A polícia anda procurando José Rainha e outros líderes do MST (Movimento dos Sem Terra), acusados, entre outras coisas, de "formação de quadrilha", motivo que já levou à cadeia outros dirigentes do movimento.Enquanto isso, o governador do Estado, Mario Covas, e o presidente do Incra, Francisco Graziano, reúnem-se com as lideranças remanescentes do MST em São Paulo. Bom, se os chefes formaram uma "quadrilha", os subordinados só podem ser chamados de "quadrilheiros", certo? E como devem ser chamadas as autoridades, como Covas e Graziano, que se animam a reunir-se, ainda por cima publicamente, com "quadrilheiros"? Não deveriam ir também para a cadeia por, digamos, cumplicidade com os que formam a tal "quadrilha"? Em um país normal é o que provavelmente ocorreria. Mas, no Brasil, as coisas são tão confusas e complicadas que as autoridades acabam elogiadas por negociarem com foras-da-lei (ou "quadrilheiros" não são foras-da-lei?). O pior de tudo é que os elogios são justos. Dificilmente poderia haver algo mais sensato, lógico, coerente e necessário do que negociar com o MST. O que, de quebra, demonstra que ou a legislação está errada ou a sua aplicação está sendo feita indevidamente. Primeiro, não se trata de um problema de natureza propriamente legal, ainda que envolva toda uma legislação, como é natural. Trata-se de uma questão política, no sentido mais lato da palavra, e como tal tem de ser encarada. Politicamente, o MST fez a coisa certa. Ou alguém acha que os assentamentos agora prometidos em São Paulo seriam ao menos anunciados se esse pessoal ficasse no seu canto, quietinho, esperando? A questão passa a ser de bom senso. Se de fato houver progressos em São Paulo, nessa matéria, o previsível é que comecem ou aumentem as ocupações em outros pontos do país. É do jogo. Desde que o MST não transforme uma mobilização legítima em mero movimento de oposição pelo prazer de fazer oposição. Texto Anterior: Capitalismo em Cuba Próximo Texto: Fraude documentada Índice |
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