São Paulo, segunda-feira, 6 de novembro de 1995
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Maluf, o publicitário do ano

FRANCESC PETIT

O prefeito de São Paulo sempre foi habilidoso na manipulação da propaganda para a sua promoção pessoal, o que é absolutamente normal em se tratando de um político. Assim, não é meu objetivo criticar "Le Maire" porque encheu a cidade de umas proteções de plástico cheias de mensagens publicitárias, lá dentro uma muda de árvore raquítica que certamente não vai sobreviver ao primeiro vândalo ou mesmo à intempérie. Assim, a gente percebe logo que o propósito não é o de plantar árvores e sim o de colocar o máximo possível de protetores plásticos que nada protegem.
Todos nós sabemos que o sr. prefeito é apaixonado por Paris e mora num dos mais belos bairros residenciais do planeta, onde árvores frondosas protegem os moradores do sol abrasante. Assim, o sr. Maluf é conhecedor que na capital francesa, como em todo o mundo, as mudas de árvores ou palmeiras, no caso de árvores, são plantadas com no mínimo dez centímetros de diâmetro por quatro metros de altura. Ao lado é colocada uma rígida estaca de madeira de grosso diâmetro e junto uma ferragem envolta com borracha para não machucar, que a une à nova muda, e ainda um protetor de treliça de ferro, sem propaganda impressa e sem nome do construtor ou patrocinador.
Talvez estejam vendendo gato por lebre ao sr. prefeito: seria interessante se ele pegasse uma régua e medisse o diâmetro das mudas para verificar que não atingem os dois centímetros de diâmetro.
O plantio não é a principal intenção e isso fica evidente assistindo o plantio das mesmas, pois são enfiadas num buraquinho sem-vergonha e nem água recebem, coisa fundamental para quem conhece bem o plantio de árvores. É preciso fazer uma cova generosa e colocar água até fazer um fundo de lama. Só depois se coloca a muda e se cobre com a terra, que deverá ser bem socada e mais uma vez se aplica água de novo.
Assim, durante os dois primeiros meses deve ser regada uma vez por semana, no mínimo. É assim que se faz quando a intenção é de fato arborizar a cidade...
Outra tacada de propaganda espetacular foi a proibição de fumar nos restaurantes. É claro que aqui também o propósito não é o de proteger a saúde pública e sim o de ocupar o maior espaço possível nos meios de comunicação por meio desse assunto polêmico e discutível, também sem querer entrar no mérito desse absurdo arbítrio digno dos tempos do Jânio Quadros.
Além dos prejuízos que poderá causar ao setor de restaurantes com multas e diligências policiais, que afastam os clientes trazendo assim desemprego. Estranho que a CUT até agora não tenha feito seus habituais protestos a essas medidas. Afinal, também poderá trazer sérios problemas para a indústria de cinzeiros e isqueiros, fósforos, piteiras e cachimbos, igual a tabacarias e charutarias, além de prejudicar as relações diplomáticas e comerciais com Cuba, cuja principal indústria é a dos fabulosos charutos Havanos, levando essa ilha já tão aflita com o boicote americano a viver na penúria.
Assim, essa proibição de fumar toma um caráter desumano, digno de intervenção da ONU ou dos direitos humanos em favor dos fumantes e dos produtores de cigarros, fumo e charutos.
Porém isso não é o pior. O mais grave é a obrigatoriedade de colocar os horrorosos cartazetes nos restaurantes dizendo que é proibido fumar. Isso é uma agressão visual da maior gravidade.
Obrigar o Giancarlo Bola, no seu lindo restaurante "La Tambouille", tão bonito, de bom gosto, sempre impecável com o tradicional arranjo de flores caríssimas, as toalhas super engomadas, os copos de cristal limpíssimos, tudo perfeito como em raros restaurantes de Paris você pode encontrar e, de repente, ser obrigado a colocar aquele cartazete tenebroso. É uma ofensa aos paulistanos, ao bom gosto e à inteligência de todos.
Por favor, sr. Maluf, lembre daquela famosa frase do movimento estudantil em 1968 em Paris: "C'est interdit interdir".

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