São Paulo, segunda-feira, 6 de novembro de 1995
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Mulheres em armas

HELCIO EMERICH

Mudando uma antiga tradição de direcionar sua propaganda apenas para os consumidores do sexo masculino, os fabricantes de armas dos EUA descobriram que as mulheres também são um belo alvo para suas ações de marketing.
O direito à defesa do lar pelas donas-de-casa e à segurança pessoal pelas jovens solteiras são os "racionais" mais frequentes por trás dos apelos de suas campanhas. Crimes contra mulheres que causaram impacto na opinião pública americana, como os assassinatos de Nicole Simpson, em Los Angeles, e da brasileira Maria Isabel Monteiro, no Central Park, forneceram combustível novo para a indústria de armas.
A primeira mirada de um anunciante na direção do "target" feminino aconteceu há uns quatro anos, quando a Colt veiculou na revista "Ladie's Home Journal" -em meio a mensagens de maioneses e produtos de beleza- um anúncio promovendo a sua linha de pistolas semi-automáticas. Antes dessa ofensiva, em 88, um outro fabricante, a Smith & Wesson, tentara beliscar o mercado feminino publicando um anúncio da sua linha de revólveres Lady Smith.
Cautelosa, a S&W não mostrava as armas, preferindo divulgar um telefone para que as consumidoras pedissem mais informações. A empresa recebeu tantos protestos que a campanha foi suspensa. Mais recentemente, encorajada pela iniciativa da Colt, a S&W voltou às revistas lançando uma nova campanha para vender (ainda com a marca Lady Smith) uma versão mais leve e delicada do modelo 357 Magnum.
Desta vez, nada de metáforas ou sutilezas: um dos anúncios mostrava uma jovem empunhando o revólver num estande de tiro, com o título "O que sua mãe pensaria disso?" O texto argumentava que, como os tempos mudaram, hoje um número cada vez maior de mulheres considera indispensável carregar uma arma entre os seus objetos de uso pessoal.
A mídia também embarcou na onda da defesa do sexo feminino pela via das armas. Desde o início de 90, circula nos EUA e no Canadá a revista "Womens & Guns". Segundo seus editores, dobra sua tiragem a cada ano (atualmente está com cerca de 40 mil exemplares).
Em suas matérias, os temas variam de noções de defesa pessoal para mulheres e testes comparativos de revólveres e pistolas até associações entre o design das armas e a moda feminina. Fabricantes, revendedores de armas e editores de publicações especializadas atribuem o interesse das jovens, das executivas e das donas-de-casa pela autodefesa à perda de confiança nos homens, sejam eles namorados, maridos ou policiais.
Citam pesquisas como a da National Rifle Association, dando conta de que existem hoje nos EUA algo em torno de 20 milhões de mulheres portando armas, 58% por motivos de proteção pessoal.
Mas os grupos e movimentos organizados que lutam contra o aumento da violência no país resolveram mostrar que têm igual poder de fogo. É o caso da Coalition to Stop Gun Violence, de Washington, que veiculou uma campanha acusando a indústria de armas de faturar em cima do sentimento de medo das mulheres, vendendo a falsa idéia de que um revólver em casa ou na bolsa possa ser uma solução de segurança. É um tiroteio que não vai acabar tão cedo.

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